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Conheça a 'mão' portuguesa nas mensagens do novo Nobel da Paz

A luso-colombiana Inês Cadavid é assessora de Juan Manuel Santos, o presidente da Colômbia galardoado com o Prémio Nobel da Paz de 2016. Quando a 10 de dezembro ouvirmos o seu discurso em Oslo, é bem possível que esta nossa compatriota já tenha ouvido aquelas palavras antes de nós.

Conheça a 'mão' portuguesa nas mensagens do novo Nobel da Paz
Notícias ao Minuto

08:30 - 10/10/16 por Pedro Filipe Pina

País Colômbia

Filha de mãe portuguesa e de pai colombiano, Inês Cadavid nasceu em Moçambique mas foi em Portugal que cresceu e estudou. Desde 2011 que é assessora de Juan Manuel Santos, o presidente da Colômbia e o homem que, na passada sexta-feira, se tornou na mais recente figura galardoada com o Prémio Nobel da Paz.

O prémio tem sido visto como uma mensagem de apoio às negociações de paz entre Governo e as guerrilhas FARC. Após décadas de violência, a Colômbia viveu quase quatro anos de negociações. O acordo alcançado foi a votos no passado dia 2 de outubro. Por uma margem pequena, o ‘Não’ venceu.

A notícia surpreendeu um pouco o resto do mundo, mas tanto o Presidente como as FARC já fizeram saber que as negociações vão continuar para um novo acordo. O Nobel da Paz será uma ajuda? O Notícias ao Minuto falou com Inês Cadavid sobre o seu percurso e o momento decisivo que a Colômbia vive.

Estava com o presidente na altura em que ele soube que tinha sido galardoado com o Nobel da Paz?

Não. Trabalho na Casa Presidencial mas também dou aulas numa universidade local sobre redação e análise de discursos políticos. Estava a meio da aula quando soube”.

E como foi ouvir a notícia?

Foi uma experiência muito bonita mas sobretudo gratificante. Sentimos todos que o nosso trabalho como equipa, apesar da vitória do ‘Não’ no referendo, foi valorizado. Depois, à tarde, fomos todos até à Casa Presidencial cumprimentá-lo, com balões brancos, com mensagens de paz. Foi a nossa forma de dar-lhe os parabéns mas, como o próprio Presidente disse, e como disseram em Oslo quando anunciaram o prémio Nobel, este foi um prémio para o Presidente pela busca pela paz, mas também para todos nós enquanto país.

Foi uma surpresa na Colômbia?

Foi uma surpresa grande, até por ser depois do resultado da votação. Sabíamos que era possível, mas estávamos à espera de que não acontecesse.

O prémio surge poucos dias depois do referendo. É uma responsabilidade extra ou pode ser um incentivo às negociações de paz?

Sinto que sim, que pode ser visto como um incentivo. Vou até mais longe, de certa forma pode ter sido um dos motivos pelos quais foi outorgado o prémio. Claro que o presidente o merece mas é também uma espécie de ‘brisa’, que pode ajudar a que o acordo chegue a bom termo. E arrisco-me a dizer que é assim que é visto pelos colombianos e que pode ser uma forma de acelerar o processo.

É também uma mensagem de apoio de fora.

Exatamente. E é o saber que contamos com o apoio da comunidade internacional. Este prémio traduz esse apoio forte e é uma mensagem que temos de ouvir e que espero que a oposição ouça. Mas a melhor notícia é que há vontade de paz. Até agora temos sentido sempre isso, até mesmo a oposição que liderou a campanha pelo ‘Não’. Queremos que a paz se instale e acabe este conflito armadoA atribuição do Nobel mudou um pouco o discurso nas ruas, relativamente ao processo de paz?

Penso que sim. A sensação após a vitória do ‘Não’ foi agridoce, foi de tristeza, até, para quem defendeu o ‘Sim’. O Nobel acaba por ser uma mensagem da comunidade internacional a favor do ‘Sim’, quase que a torcer para que este processo possa chegar a bom porto. A frustração após a vitória do ‘Não’ amainou um pouco.

O discurso do Presidente de atribuição do Nobel da Paz vai ser ouvido e analisado um pouco por todo o mundo. O discurso já está a ganhar forma?

É tudo tão recente que ainda se está a acordar desta novidade. Ainda é cedo para sabermos como será feito, mas normalmente em discursos mais relevantes, como este, o Presidente procura trabalhá-los a sós.

E alguma vez se imaginou a trabalhar de perto com uma figura pública galardoada com o Nobel da Paz?

Sou sincera: nunca pensei que chegasse o momento e logo participando num governo comprometido com a busca da paz e sobretudo com um Presidente a quem foi outorgado o Prémio Nobel da Paz e que dia 10 de dezembro vai discursar perante o mundo. Estou entusiasmada.

A vitória no Nobel era um objetivo do Presidente?

Houve quem dissesse que era isto que o Presidente pretendia quando iniciou os diálogos de paz com a guerrilha das FARC, mas posso afirmar com toda a certeza que [o Presidente] nunca pretendeu que fosse este o resultado do seu mandato e da sua ‘obsessão’, como o próprio o descreve, pela paz. Quem trabalha com ele tem muito claro, desde sempre, que o seu maior propósito como presidente é o fim do conflito armado. Por isso, o prémio é mais do que merecido. A sua motivação para continuar a apostar no diálogo neste momento difícil das negociações é deixar ao seu sucessor um país onde a paz possa consolidar-se.

O prémio será entregue a 10 de dezembro. Até lá poderá haver novidades no processo de paz?

A pergunta é pertinente mas só posso responder com um otimismo sério. Penso que sim e espero que sim, vejo vontade de todos os atores, quer Governo, quer oposição, quer as FARC, para vivermos num país sem conflito armado interno. Por isso penso que vai ser possível chegar lá com avanços significativos neste segundo ‘round’ de negociações após a vitória do ‘Não’. Mas não vai ser fácil porque o acordo a que se chegou e que foi votado foi o melhor acordo possível após quase quatro anos de intensas negociações, com uma equipa da parte do governo de negociadores maravilhosa, com uma equipa da parte das FARC muito comprometida em avançar. Vai ser difícil, não digo que não, mas tenho esperança de que se consiga porque há vontade de paz

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