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Quando a escola se adapta às crianças (e não o inverso), é assim

Nos Aprendizes o destaque é o método alternativo de ensino que é oferecido. Ao contrário da pedagogia dita ‘normal’, nesta escola em Cascais as crianças estão em constante aprendizagem ativa e sua opinião conta – e muito.

Notícias ao Minuto

08:37 - 05/10/16 por Inês Esparteiro Araújo

País Aprendizes

Quando se entra na escola parece apenas mais uma. Na hora do recreio, há crianças a correr pelo jardim. Outras optam pelo baloiço e ainda há as que preferem os jogos de equipa. Mas, depois de se passar algumas horas nos Aprendizes, rapidamente se percebe que as coisas funcionam de maneira diferente.

Ao contrário das restantes escolas em Cascais – sendo que a maioria é religiosa – ,nos Aprendizes, escola que já existe há oito anos, a metodologia implementada foi a High Scope. “É uma aprendizagem ativa, em que a criança em vez de estar sentada a ouvir alguém expor uma teoria, interage. Tudo é experimentado com o corpo, com os sentidos. Eles vão para a terra. Vão para a rua perder-se para perceberem a importância dos pontos cardeais”, explicou ao Notícias ao Minuto Sofia Borges, diretora desta escola.

Se, por exemplo, o português pode ser uma matéria chata, aqui os professores fazem questão de a tornar muito mais divertida. Como Sofia exemplificou, pode aprender-se as sílabas das palavras através de um jogo: “Todos em cadeiras e cada um representa a sílaba de uma palavra. Mas aquele que é a sílaba A tem de se levantar”, ilustrou. 

Nada é aprendido através de manuais, pelo contrário, são os alunos que formam os seus próprios manuais. É trabalhado o desenvolvimento da criança, o que permitirá depois conseguir obter as respostas pretendidas.

Aquilo que é importante não é o conhecimento que tenho, mas sim o que sei fazer com isto. Se sei ir à procura de emprego, se sei fazer um currículo, e é isto que nos distingue enquanto pessoas

“Aos poucos, fomos percebendo que havia outras coisas. Waldorf é muito mais do que uma pedagogia, tem toda a sua base na antroposofia e nesse sentido é a mais completa de todas. A própria alimentação, a forma de estar, o que se veste. Costumo fazer esta comparação: a diferença entre ser vegetariano e ser vegan, que é uma forma de estar na vida. E, para nós, este casamento entre estas duas ou três pedagogias é muito interessante”.

Ao mesmo tempo que Sofia explicava, eram várias as crianças que iam surgindo para tirarem os cartões da casa de banho. Um sistema que é gerido por elas e que, aparentemente, funciona na perfeição. Se não há cartões, há que esperar que volte um colega da casa de banho.

“Para nós, há um profundo respeito pela individualidade de cada criança. Cada um dorme quando precisa e o mesmo se passa com as fraldas, chuchas e com as personalidades, com os ritmos. Ninguém espera no primeiro ano que toda a gente tenha o mesmo ritmo e a mesma forma de estar e que evolua da mesma maneira (…) A escola é que tem de se adaptar às crianças e não o oposto”.

E existem turmas? Um currículo igual ao definido pelo Ministério?

Aqui, a pré-primária engloba as três idades – 3, 4 e 5 anos - e a partir do primeiro ciclo existe uma turma por cada ano. Apesar de seguirem o currículo do Ministério da Educação – isto porque o ministério não legaliza as pedagogias alternativas – e de Sofia concordar que “faz sentido” haver temas adequados a uma determinada faixa etária, “cabe depois ao professor” perante a turma que tem, saber como adaptar esse currículo aos alunos da turma.

“Em história, por exemplo, o terramoto de 1755 é uma das matérias do sexto ano. A partir deste tema a professora de EVT adaptou-se e decidiu que os alunos iriam fazer maquetes que representassem a cidade e a professora de matemática pensou: ‘Para se fazer maquetes tem de se fazer escalas, gráficos’ e assim sucessivamente. Isto é a arte do professor”, concretizou a responsável.

Também os trabalhos de casa são muito “fazíveis”. Existem em “só dois dias por semana” e vão aumentado: no 1.º e 2.º anos os alunos quase não têm, que depois começam no 3.º e 4.º anos. Apesar de ainda “estarem convencidos de que é bom para o método de estudo”, os “tpc’s” têm um tempo limite de duração. Quando o professor os passa, diz igualmente qual o tempo em que devem ser feitos. “Se aquela criança demorar mais tempo a fazer, de que se perceber o porquê”, esclareceu Sofia.

O mesmo com os castigos. “Se alguma criança não faz uma coisa adequada, não há ralhetes. Dá mais trabalho, mas é mais eficaz a longo prazo”, garantiu.

Falta referir ainda a alimentação, “que é uma coisa tão importante como outra qualquer”. “Toda ela é biológica” e a semana é dividida por dois dias de pratos vegetarianos, dois dias de pratos de peixe e um de prato de carne. À hora das refeições, cada um se serve a si próprio num ‘mini buffet’ e, “sem fundamentalismo nenhum”, prova um bocadinho de tudo – e isto é regra para todos. Há também uma horta na escola. Neste espaço, os alunos podem cultivar e tudo o que a terra der será depois consumível.

Entre a meditação como atividade e os dias de voluntariado que fazem parte do programa do calendário escolar, os Aprendizes parecem mesmo ser uma agulha no meio de um palheiro. O objetivo neste espaço é “enaltecer o potencial de todos”. “Uma criança pode não ser brilhante a português e ser brilhante no yoga (…) Devemos ser bons em qualquer coisa! Embora eu acredite que uma criança com os apoios certos, consegue sempre. La está: a escola a adaptar-se às crianças e não o oposto”.

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