Nélson, Miriam e Mia. Uma família que largou tudo para ser feliz

Quando nos perguntam onde é a nossa casa, é costumário indicar um local no mapa. Nélson, Miriam e Mia indicam um lugar no coração, no sítio que pertence à família. Os três são os protagonistas do blogue 'Menina Mundo', uma história de viagens mas sobretudo de felicidade.

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© Nélson Paiva

Anabela de Sousa Dantas
27/03/2016 09:11 ‧ 27/03/2016 por Anabela de Sousa Dantas

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Menina Mundo

Os sonhos não devem ter data de ida e volta”. É assim que Miriam, psicóloga e criminóloga, antiga docente universitária na Faculdade de Direito da Universidade do Porto, descreve a intenção concretizada de arrumar as malas e rumar com a família mundo afora.

Desde setembro de 2015 que Miriam e Nélson, informático, criminólogo e fotógrafo, viajam pelo mundo com a pequena Mia, a filha de ambos, sendo todas as suas aventuras registadas no blogue 'Menina Mundo' – vencedor na categoria de Melhor Blogue Pessoal nos prémios BTL Blogger Travel Awards, entregues no início deste mês.

Venderam o carro, libertaram-se dos bens materiais e passaram a viver apenas com o conteúdo das mochilas que carregam às costas, usufruindo ao máximo de cada lugar onde sediam momentaneamente a sua casa. Voltar? “Serão as contingências financeiras, às quais não escapamos, bem como emocionais (as saudades e momentos cruciais na vida dos nossos familiares e amigos), que ditarão o regresso”, indicou Miriam ao Notícias ao Minuto.

A pequena Mia: “Aos dois anos ela sabe o que faz de nós família”

Viajar pelo mundo é um sonho que povoará o imaginário de muita gente. Miriam e Nélson levaram-no a outro nível e fizeram dessa experiência uma coisa de família, ao levar com eles a filha, Mia. Agora com dois anos de idade, Mia começou a viajar ainda muito pequena e a mãe descreve, de forma apaixonada, como a filha começa a ver o que a rodeia.

“A sua definição de casa: A Mia, o papá, a mamã. Aos dois anos ela sabe que o que faz de nós família não é vivermos sob o mesmo teto e as mesmas paredes todos os dias, é o que nos mora dentro do peito, independentemente do lugar no mundo, estarmos juntos é sermos casa, lar, família”, indica Miriam.

Mia diz olá em cada país que visita na língua nativa, já há muito que come à vontade com os pauzinhos, adora o comboio, o barco e o avião, reage de forma intuitiva (fez de caixas de cartão um banco para se sentar num restaurante de Pequim), e apelida cada lugar novo como “a nossa casa nova”.

“Se há algo que queremos que ela retenha desta experiência é isto: que a diferença nos traços do rosto, na forma como nos vestimos, como oramos, como falamos, como comemos e no que comemos não nos torna melhores ou piores, grandes ou pequenos (…). E é assim que ela já vê a diferença: sem a ver (…). O corpo, esse que evidencia as diferenças físicas, será sempre mais do que isso: é o lugar onde bate um coração e ouvi-lo urge”, acrescenta a mãe.

Experiências inesquecíveis que fazem momentos eternos

“Percorrer a Grande Muralha, descer o rio Yulong numa jangada de bambu, estender os olhos pelos arrozais no nordeste do Vietnam; visitar esse lugar onde desceu o dragão (Ha Long Bay); o caos organizado de Hanói; o mês que vivemos na selva, o dia em que plantamos a nossa árvore e aquele em que alimentamos um elefante e passeamos de camelo no deserto do Rajastão”, descreve Miriam, recontando as suas viagens.

Cada local traz uma nova experiência e novas sensações que vão para além da beleza de cada sítio. “É sobretudo pela ressonância que tudo o que temos vivido tem em nós e o privilégio que é viver tudo isto juntos, em família”, vinca.

Repensar o valor das coisas e o valor da família

Miriam e Nélson ainda não pensam em voltar, mas irá acontecer e os dois terão que se adaptar aos efeitos de uma ausência prolongada nas suas carreiras. Estas viagens, conforme diz Miriam, serão sempre parte dessa reinvenção profissional porque há coisas que mudaram para sempre.

“Hoje temos menos (coisas), mas hoje vivemos mais, vemos mais, aprendemos mais, conhecemos mais, conhecemo-nos mais e somos mais: hoje temo-nos mais. Por isso costumo dizer que esta viagem é o nosso melhor retrato de família”, indica.

Isto faz com que o valor das coisas seja repensado: tudo o que possuímos parece também delimitar-nos, agarrar-nos. (…) A certeza de que somos contadores de histórias, em palavras e em imagens, e que isso fará parte do nosso dia-a-dia daqui para a frente. Isso e a vontade de continuar a viajar, esta viagem apenas tem exacerbado essa sede do mundo”, termina Miriam, despedindo-se com um beijinho dos três.

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