Duas mulheres estão a ser acusadas por tráfico de influências na Câmara Municipal de Braga. Em causa, está uma troca de favores em que uma delas se comprometeu a empregar a filha da segunda arguida na autarquia.
No despacho, o Ministério Público informa que uma assistente operacional da câmara em questão, “se ofereceu à outra arguida para dar uma ajuda no procedimento concursal para assistente operacional (...), a que a filha desta última era oponente”, em maio de 2020.
Em troca, a mãe colocou 400 euros num envelope, juntamente com os dados da filha (nome e telemóvel), “fechou-o e entregou-o à primeira arguida para que esta tratasse do assunto”.
E, mesmo assim, a filha não conseguiu o emprego.
Segundo o Jornal de Notícias, que cita a acusação e avançou primeiramente com a notícia, foi excluída do concurso por obter apenas 13 valores na prova de conhecimentos.
A mãe disse ter confrontado Ana Silva (a funcionária que se terá predisposto para meter a chamada ‘cunha’ a favor da filha da colega) com a exclusão da jovem, ao qual lhe terá sido respondido que "não se preocupasse, que estava tudo tratado e que os candidatos que tinham 18 ou 19 valores não iam entrar porque eram licenciados".
Expetativas furadas, terá sido a própria arguida que deveria ter sido ajudada a fazer queixa da colega no Departamento de Recursos Humanos (DRH) onde admitiu que tinha pago para que a filha beneficiasse da ‘cunha’.
Chamada ao gabinete, Ana Silva confirmou que recebeu 400 euros “para ajudar a sua filha [da colega] a encaixar-se”.
Ana Silva ofereceu ajudar a filha de uma outra colega
Mas esta não foi a primeira infração da funcionária da autarquia de Braga.
“Em abril de 2020, endereçou mensagem escrita para outra conhecida sua, cuja filha era interessada em emprego de assistente operacional no município de Braga, dizendo que estava em curso o procedimento concursal das escolas, que se chegasse à frente e metesse €300 num envelope para dar a quem tinha a lista”, continua o despacho do Ministério Público.
Meses antes da denúncia ser conhecida, Ana Silva terá abordado a conhecida num café onde se voluntariou para tratar “de tudo” para que a filha da outra conseguisse o emprego.
Duas semanas depois, foi diretamente à casa da interessada, onde à frente do marido e da filha, que estaria a concorrer ao emprego, disse à mesma: “Vais receber prenda de Natal, pequenina, mas adiantada”.
Mais à frente, de novo no café, Ana Silva informou a jovem que ia ter de fazer entrevista na Universidade do Minho, mas que “não se afligisse, que era tudo a fingir e que o lugar era dela".
Apesar de “já estar tudo tratado” a mãe acabou por não entregar o envelope de 300 euros que a arguida pedia.
Também este caso foi denunciado no DRH, o que levou a Câmara Municipal de Braga a agir e a abrir um inquérito ao caso. Após um processo disciplinar interno, Ana Silva foi despedida. Agora, aguarda julgamento onde é acusada de dois crimes de tráfico de influência.
A mãe do primeiro caso é também acusada deste crime.
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