Ajuste de contas com Qatar? "Não menosprezo nunca avisos de Israel"
O antigo governante Azeredo Lopes falou sobre o aviso deixado ontem por Telavive a Doha. "Agora precisamos deles. Mas quando isto acabar, vamos ajustar contas", disse fonte do ministério, referindo-se à posição do país em relação ao grupo Hamas.
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País Israel/Palestina
O ex-ministro da Defesa José Azeredo Lopes comentou, na quarta-feira, a situação no Médio Oriente, considerando que tanto Israel como o Hamas estavam a tentar construir a sua narrativa, assim como falando sobre a promessa de "ajuste de contas" deixada por Israel ao Qatar, que tem vindo a mediar a libertação de reféns.
“Habituei-me desde há muitos anos a nunca menosprezar avisos de Israel […]. Isto no fundo corresponde a uma prática muito coerente de Israel ao longo dos anos – nada fica sem se ajustar em contas”, considerou, em declarações à CNN Portugal.
Em causa está um aviso deixado durante uma entrevista dada pelo diretor-geral adjunto para os assuntos estratégicos do ministério dos Negócios Estrangeiros, Joshua Zarka. Após questionar o "papel do Qatar em tudo o que está relacionado com o acolhimento e legitimação das atividades do Hamas", o responsável deixou a garantia de que as coisas não iam ficar 'por aqui' com o país. "Agora precisamos deles. Mas quando isto acabar, vamos ajustar contas", afirmou.
Para além do Qatar, também os EUA e o Egito se envolveram nas negociações para um acordo de pausa humanitária - agora em vigor, e com possibilidade de ser prolongado. Doha tem também um gabinete um gabinete do Hamas, que diz que continuará aberto enquanto conseguir ser usado para a paz.
A narrativa com vista à opinião pública
O antigo governante falou ainda sobre as narrativas que estavam a ser construídas tanto pelo governo israelita como pelo grupo Hamas.
“O que nós estamos a assistir é uma espécie de interlúdio, em que cada uma das partes está a tentar construir a sua narrativa para preparar, no fundo, a opinião pública – mundial – para aquilo que vai vir”, afirmou.
Azeredo Lopes defendeu que do lado de Israel existe uma narrativa baseada na causa-efeito, sendo uma mensagem “virada para dentro”. “A estratégia do governo de Israel é dizer: ‘Só pela circunstância de termos sido tão brutais e tão violentos é que o Hamas aceitou libertar reféns”, explicou.
Ainda do lado político de Israel, Azeredo Lopes apontou que existe também uma segunda dimensão, que é a “tese que tem vindo a ser disseminada por Israel de que em Gaza, a grande maioria, são todos uns patifes”. De acordo com o comentador, esta é uma tese, que “devia ser talvez um bocadinho mais disfarçada”, tem vindo a ser defendida por Israel e dá a ideia de que em Gaza estão todos ligados ao Hamas, ou a outros grupos com ligações ao grupo islamita.
E se do lado de Israel “se prepara a opinião pública para a tal ideia de responsabilidade de Israel”, a propaganda do lado do Hamas é também “intensíssima”.
“A ideia do Hamas como uma organização humana – no tratamento. Até são são giros, estão bem equipados, levam as senhoras mais velhas ao colo, estão sempre a mostrar-se disponíveis para mais tréguas, para cessar hostilidades”, detalhou, referindo-se à “propaganda” levada a cabo pelo grupo.
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