A agência Lusa acompanhou o processo do princípio ao fim, desde a chegada do peixe a terra até à entrega ao cliente, e testemunhou como, apesar de a atividade da pesca estar em decadência, esta comunidade do Alentejo tenta encontrar formas de se dinamizar.
Para os pescadores, o dia começou cedo. Os dois irmãos Costa saíram a bordo do "Paulo Duarte" por volta das 05:30 e regressaram ao porto de pesca já passava das 10:00, 25 quilos de polvo depois.
A venda está assegurada a um comprador de Lagos, no Algarve, mas, para António Costa, o dia "foi fraco", devido ao estado do mar, "um bocado encrespado".
"Hoje não dá para a despesa", dizia o pescador enquanto pesava o resultado da faina na lota e fazia as contas ao "deve e haver".
Por seu turno, José Glória, de 62 anos, reformou-se da pesca recentemente, cansado da vida do mar, devido aos "fracos recursos" e à "falta de camaradas".
"Desisti", assumiu.
No entanto, o "cabaz do mar", desenvolvido pela Associação Cultural e de Desenvolvimento de Pescadores e Moradores da Azenha do Mar, deu-lhe uma nova oportunidade de se manter ativo.
O antigo lobo do mar e a coordenadora do projeto, Ivânia Guerreiro, da cooperativa Taipa, a entidade promotora, compram, amanham e embalam o peixe para depois distribuírem os cabazes pelos clientes, que o podem receber semanal, quinzenal ou mensalmente.
Na lota, por onde o peixe tem obrigatoriamente de passar, o preço de compra é negociado com os pescadores de uma forma considerada mais justa.
"E é por isso que eu estou mais metido nisto", assegurou José Glória, que considera "uma vergonha" que algumas espécies sejam pagas ao pescador a menos de um euro por quilo, como é o caso da faneca, sendo depois vendidas no mercado "a sete ou oito euros".
Segundo Ivânia Guerreiro, reduzindo o número de intermediários, é possível fazer reverter metade do valor cobrado aos clientes para os pescadores.
Além disso, um terço do peso do cabaz, ou seja, um quilo, é sempre constituído por espécies "menos valorizadas" pelos consumidores.
Neste dia, as choupas cumpriram esse papel, numa lista que incluía também polvo, bicas, besugos e salmonetes.
A responsável garante que "todo o peixe é bom grelhado ou no forno", para mais quando é entregue aos clientes, no máximo, 24 horas após a apanha.
"Isto faz com que o pescado que, supostamente, não teria tanta qualidade, passe a ter", afirmou.
Para vencer a resistência de alguns consumidores mais céticos, o "cabaz do mar" vai passar a incluir algumas receitas dos próprios pescadores e está também prevista a realização de demonstrações de culinária.
Rute de Sousa, de 29 anos, faz parte do grupo de 26 clientes que já aderiram ao projeto e considera que o preço que paga pelos três quilos de pescado, 20 euros, é "bastante acessível".
A consumidora recebeu o seu cabaz quinzenal em São Teotónio, a pouco mais de 10 quilómetros da Azenha do Mar, e confessou à Lusa que algumas espécies a têm feito procurar mais informação, o que tem sido um processo de "aprendizagem", mas "muito simples".
Por enquanto, as entregas estão circunscritas às freguesias do litoral de Odemira, até porque este é o maior concelho do país, com mais de 1.700 quilómetros quadrados.
Apesar de existirem pessoas interessadas em localidades do interior, como Sabóia, a cerca de 35 quilómetros, é difícil rentabilizar o serviço, devido ao custo do combustível e ao tempo que se demora a percorrer os caminhos.
Com o tempo, a Taipa deseja que o projeto, que está no terreno "a sério" há menos de um mês, se expanda para os outros portos de pesca do concelho.