O projeto 'Gira no Bairro' nasceu há cerca de um ano, pelas mãos da associação Mundos de Papel, e desenvolve-se, sobretudo, com jovens do bairro social Sá Carneiro, localizado em Caxias, no distrito de Lisboa.
No entanto, o projeto abrange igualmente outros jovens e instituições da zona de Caxias, como é o caso do Centro Educativo Padre António Oliveira.
Estes jovens, com idades compreendidas entre os 13 e os 18 anos, têm uma sala dentro da esquadra da PSP de Caxias, na qual desenvolvem várias atividades e abordam temas sobre as questões do racismo, violência policial e injustiça social.
"É uma iniciativa que é pioneira e inovadora e que tem como principal objetivo gerar mudanças e construir uma relação sólida entre os jovens, a comunidade e os agentes da PSP. No fundo, quebrar preconceitos e estereótipos", explicou à agência Lusa a coordenadora do projeto, Ana Santos.
A responsável da associação Mundos de Papel admitiu que no início do projeto lidou com alguma "resistência e desconfiança", mas que atualmente "já se notam grandes diferenças e o ambiente é de cumplicidade".
"No início, os jovens não queriam ir e achavam que iam ser presos. Do lado da PSP também havia alguma desconfiança. Hoje jogam consola juntos, jogam futebol e adoram vir para a esquadra", contou.
Ana Santos sublinhou que esta interação entre os jovens e a PSP "está a ser também muito importante para mudar a perceção de toda a comunidade do bairro".
"Hoje, os agentes passam no bairro quando estão a fazer a patrulha e há vários acenos de mão. A polícia deixou de ser vista como o inimigo e os jovens como meros delinquentes. Está a ser muito gratificante ver as mudanças", apontou.
As atividades desenvolvidas entre os jovens e a PSP decorrem também no exterior da esquadra de Caxias, tendo-se realizado algumas visitas a museus, jogos de futebol, parques e aventuras e eventos culturais.
Atualmente, numa altura em que o país enfrenta a pandemia da covid-19, as visitas à esquadra ficaram suspensas, mas não a ligação entre os jovens e os agentes, que se continua a alimentar virtualmente.
"Temos um grupo no 'whatsapp' e é muito engraçado ver como os jovens pedem ajuda e fazem pergunta aos agentes", contou.
Desde junho de 2019 aderiram a este projeto mais de 70 jovens e de 30 agentes da PSP, num total de 300 sessões, tendo o apoio de cerca de 30 voluntários.
"Estou convencida de que este é o caminho e que estas devem ser as esquadras do futuro. Não queremos alimentar ódios, mas sim contribuir para um ambiente saudável e de cooperação entre todos", acrescentou.