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Falta "enterrar o machado de guerra" em São Tomé e Príncipe

Os autores do documentário "Sombras do Poder", que aborda os conflitos políticos em São Tomé e Príncipe, defendem que, 45 anos depois da independência, falta ainda "enterrar o machado de guerra" e promover "uma verdadeira reconciliação" no país.

Falta "enterrar o machado de guerra" em São Tomé e Príncipe
Notícias ao Minuto

11:43 - 17/01/20 por Lusa

Mundo São Tomé e Príncipe

Os conflitos de liderança e de poder nas etapas do processo político de São Tomé e Príncipe são o tema deste documentário, da autoria do realizador Nilton Medeiros e do produtor Jerónimo Moniz, que se estreia, no sábado, em Lisboa.

"O que está a matar São Tomé e Príncipe são o ódio e a vingança. Se não pararmos para pensar e cicatrizar, de uma vez por todas, essas feridas do passado, não vamos conseguir", disse à agência Lusa o realizador Nilton Medeiros.

Por seu lado, Jerónimo Moniz entende que falta ainda "uma verdadeira reconciliação" que passe "pelo reconhecimento de culpas", à semelhança do processo que se seguiu ao fim do 'apartheid' na África do Sul.

Para Jerónimo Moniz, as tentativas de diálogo nacional falharam por não terem conseguido incluir todos os envolvidos e por não ter existido um verdadeiro reconhecimento de responsabilidades.

"Falta enterrar o machado de guerra. Se não houver isso, os ódios vão continuar, prejudicando a sociedade e toda a nação", reforçou.

O filme insere-se no projeto 'São Tomé e Príncipe, Retalhos de uma História' e seguem-se a outro com o mesmo nome do projeto, que abordou as divergências na luta pela independência do país.

O novo documentário aborda a situação política imediatamente a seguir à independência do país, em 12 de julho de 1975, (I República), com a instituição de um regime de partido único e uma governação caracterizada pela "asfixia" e perseguição dos opositores.

O filme retrata, através de cinco testemunhos, episódios de prisão e tortura de cidadãos acusados e condenados de tentativa de golpe de Estado pelo tribunal para Atos Contra-Revolucionários, criado especialmente para o efeito.

"No documentário, cada personagem tem a sua verdade, sem pretender que seja a verdade absoluta", apontou Nilton Medeiros, adiantando que os protagonistas são pessoas que foram julgadas, condenadas, presas e maltratadas física e psicologicamente durante este período.

"Houve também uma morte que é retratada no documentário", acrescentou.

Debruça-se também sobre a abertura ao multipartidarismo (II República) e as sucessivas tentativas de golpe de Estado que marcaram este período.

"Nesta fase, o que se nota é que as feridas do passado não cicatrizaram e começa a haver uma governação protagonizada por ódio e rancor, que culmina com várias tentativas de golpe de Estado que felizmente tiveram sempre um final feliz com amnistias e negociações" e sem registo de vítimas, sublinhou Nilton Medeiros.

Os autores acreditam que o documentário, que não tem ainda data prevista de estreia em São Tomé e Príncipe, tem "potencial para causar polémica" por abordar episódios que constituem ainda "tabu" na sociedade são-tomense, mostrando-se abertos a aceitar as críticas que possa suscitar.

Nilton Medeiros e Jerónimo Moniz apontaram como dificuldade para a elaboração do filme, o facto de terem recebido algumas recusas por parte de protagonistas que convidaram a participar no documentário.

"Não há abertura para falar sobre o passado. É ainda um tabu, algo para ficar escondido, é como se não tivéssemos uma História", disseram.

Por isso, assumem, o maior objetivo do documentário é contribuir para uma reflexão das novas gerações sobre o passado "para compreenderem melhor o presente e perspetivarem o futuro".

"Um futuro sem ódio, sem rancor e com respeito pela opinião das pessoas", defenderam.

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