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Ninguém na Índia quer estudar português por gostar de Portugal

O investigador português Constantino Xavier considera que é a componente económica que leva milhares de indianos a estudar a língua portuguesa no país asiático e não o gosto por Portugal, acrescentando que o Estado português deve "capitalizar com isso".

Ninguém na Índia quer estudar português por gostar de Portugal
Notícias ao Minuto

06:23 - 26/03/19 por Lusa

País Investigação

"Nós falamos da língua como 'vamos promover o instituto Camões e dar bolsas para se ensinar ou promover o português na Índia'. Isso é do passado. Ninguém hoje em dia quer estudar português ou vir para Portugal porque gosta de Portugal", afirmou o académico de origem goesa durante uma palestra na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na segunda-feira.

"A maioria dos estudantes, e são milhares hoje em dia que estudam português na Índia, quer estudar como oportunidade de carreira económica, de empregos", acrescentou, exemplificando que estes não pretendem emigrar para Portugal, mas sim utilizar essas competências em 'call centers' de Bangalore que atendem chamadas do Brasil.

O investigador sugere que, havendo um interesse económico associado, o Estado português deve "capitalizar com isso" e abandonar o ensino e promoção da língua portuguesa na Índia que, muitas vezes, acontece de "uma forma paupérrima", disse.

Constantino Xavier recebeu em janeiro, em Nova Deli, uma distinção atribuída a antigos bolseiros de excelência do Conselho Indiano para as Relações Culturais (ICCR), tendo, durante o seu discurso de aceitação, falado português, "uma das línguas da Índia".

"Há formas de ligar a cultura e a língua aos interesses económicos e incentivar esses laços", afirmou, sublinhando que "a cultura não deve ser separada da economia".

O investigador de Estudos Internacionais no Instituto Brookings considerou, por outro lado, ser importante envolver as empresas na proteção do património indo-português.

"Quando falamos de património, nós muitas vezes temos uma atitude de 'vamos proteger o nosso antigo património português, vamos ensinar aos indianos como preservar uma fortaleza, uma igreja, arte sacra indo-portuguesa e com o Estado português a financiar isto'. Eu acho muito importante envolver as empresas nisto e formar quadros técnicos na Índia que sejam capazes de preservar o património", declarou o investigador português.

Para Constantino Xavier, é importante que as 'smart cities' indianas de agora saibam o seu passado, sendo que muitas "têm certas origens portuguesas que têm de ser estudadas para serem modernizadas", algo que considera ser "muito importante, também".

O académico pediu ainda um investimento para o envio de estudantes portugueses para a Índia, defendendo que, após a reaproximação entre os dois países, pode fortalecer o momento formativo dos jovens.

"Num país com 1,2 mil milhões de pessoas, como é que só há sete estudantes portugueses [registados] a tirar um grau académico na Índia?", questionou o investigador.

"Temos de investir muito mais nisso, temos de enviar estudantes portugueses para a Índia. Os estudantes portugueses têm de conhecer a Índia na Índia", referiu Constantino Xavier, que pede um aumento de "recursos financeiros oficiais" e uma procura de apoio para enviar mais estudantes.

Constantino Xavier defendeu que é durante o seu momento formativo que os jovens "fazem contactos, conhecem o país, percebem o modo de pensar daquele país", algo que "depois pode ser útil".

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