Contestação deve-se a expectativas goradas e má distribuição da riqueza

Silva Peneda e Carvalho da Silva consideram que a persistência da contestação social ao longo de 2018 se deve à frustração das expectativas criadas nos trabalhadores e à deficiente distribuição da riqueza e alertam para um provável agravamento da situação.

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Lusa
22/12/2018 08:45 ‧ 22/12/2018 por Lusa

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"Existem vários fatores que contribuíram para a contestação social que tem ocorrido ao longo do ano, mas o principal motivo foram as expectativas muito elevada para a realidade, criadas pelo Governo, com um ministro das Finanças sempre muito otimista, que não se refletiram nos rendimentos", disse o antigo presidente do Conselho Económico e Social Silva Peneda.

Segundo Silva Peneda, Portugal tem tido uma conjuntura muito favorável e irrepetível, com taxas de juro baixíssimas e um grande crescimento do setor do Turismo.

"Mas, no futuro, vamos ter um novo período de contenção, pois a ideia de que vivemos uma fase fantástica da economia não corresponde à realidade ", disse, lembrando que Portugal foi dos países que menos cresceu na União Europeia.

"É que não houve reformas de fundo, mudanças estruturais", acrescentou.

Para o antigo ministro do Emprego, "as pessoas estão a bater o pé para fazer vingar as suas reivindicações porque lhes fizeram acreditar que era possível concretizá-las".

Silva Peneda considera que a contestação social e a turbulência também têm aumentado por influência externa.

Referiu, como exemplo, os protestos que têm ocorrido em França, dos chamados 'coletes amarelos', que "ultrapassam as organizações sindicais".

Silva Peneda considerou também que existe falta de estratégia de médio e longo prazo na UE.

"Isto é muito preocupante, tirando o 'Brexit', não vejo união, só desunião", disse.

O antigo político considera que em 2018 houve um excessivo otimismo, que criou nas pessoas elevadas expectativas que saíram goradas e, por isso, têm protestado e vão continuar a protestar, o que vai prejudicar a economia do país.

Silva Peneda prevê que no próximo ano o crescimento económico seja menor e, por isso, "os tempos serão piores em todos os aspetos".

Para o sociólogo Manuel Carvalho da Silva, a persistência da contestação social, num altura em que tanto se fala no crescimento económico do país, deve-se à deficiente distribuição da riqueza.

"Embora estruturalmente a economia portuguesa não tenha tido melhorias significativas nos últimos anos, porque não houve valor acrescentado nem criação de emprego de qualidade, alguns setores e empresas estão melhor e, por isso, devia haver uma melhor distribuição da riqueza", defendeu o ex-secretário geral da CGTP.

Segundo o antigo sindicalista, a luta dos trabalhadores portugueses tem sido persistente ao longo do ano porque eles veem que a economia no geral está melhor, mas isso não se reflete nos seus rendimentos, nem nos empregos que têm sido criados.

"Os trabalhadores são credores de um conjunto de reacertos e direitos que lhes foram retirados com o argumento do combate à crise, mas este ano não houve essa reposição, nem melhorou a capacidade negocial com os patrões", considerou.

Carvalho da Silva responsabilizou o Governo e as entidades patronais pela persistência da contestação social, "porque não têm respondido às reivindicações dos trabalhadores com a desculpa de não terem dinheiro, fazendo aumentar o descontentamento e, consequentemente, as greves".

"O movimento grevista nesta fase final do ano mostra isso", disse, dando como exemplo a greve dos estivadores do porto de Setúbal, que "teve origem na necessidade de combate à precariedade prolongada e foi acusada de estar a prejudicar a economia em milhões de euros quando foram as empresas as responsáveis pelo protesto, por insistirem ao longo dos anos no trabalho precário".

Referiu ainda a 'greve cirúrgica' que os enfermeiros têm em curso, depois de terem feito outras ao longo do ano, para criticar a atuação do Governo nos conflitos laborais.

"O Governo tem arrastado durante muito tempo os problemas e tem desvalorizado a negociação com os sindicatos, mas tem obrigação de o fazer e neste caso ainda mais porque tem de garantir a saúde aos portugueses", considerou.

O sociólogo alertou ainda para um previsível agravamento dos conflitos sociais caso as entidades patronais, públicas e privadas, continuem a ignorar as reivindicações dos trabalhadores e não melhorem a distribuição da riqueza.

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