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Ex-subsecretário de Estado revela que Amaro da Costa o inquiriu sobre fundo do Ultramar

O antigo subsecretário de Estado do Orçamento Rui Carp revelou hoje que o ex-ministro da Defesa Amaro da Costa lhe pediu informalmente para averiguar como é que funcionava o Fundo de Defesa Militar do Ultramar.

Ex-subsecretário de Estado revela que Amaro da Costa o inquiriu sobre fundo do Ultramar
Notícias ao Minuto

06:27 - 11/10/13 por Lusa

País Camarate

Rui Carp, subsecretário de Estado do Orçamento durante o Governo liderado por Sá Carneiro, disse que se tratou de uma "conversa fortuita" que teve lugar "em julho ou agosto" de 1980 durante um almoço em que "por acaso" se encontraram numa pastelaria da Rua do Ouro, Lisboa, onde almoçava habitualmente.

"O engenheiro Amaro da Costa perguntou-me se eu já tinha ouvido falar numa coisa chamada Fundo de Defesa [Fundo de Defesa Militar do Ultramar]. Eu disse `já ouvi falar mas não sei nada disso´. E ele disse que gostava de saber como é que aquilo funcionava e eu disse que ia tentar saber", relatou, perante os deputados da 10ª comissão de inquérito à tragédia de Camarate.

Rui Carp acrescentou que Amaro da Costa lhe pediu para não comentar o assunto.

Na sequência desse pedido, falou com o Diretor-Geral da Contabilidade Pública, com os diretores das delegações dos ramos das Forças Armadas e do Estado Maior.

"Todos eles foram coincidentes, esses fundos não iam à Direção-Geral da Contabilidade Pública. Ou seja, o Conselho de Revolução ficou com a tutela ministerial sobre esses fundos", afirmou.

"E a partir daí o recado foi esse, que falasse com os diretores, que podia ser que se lembrassem de mais alguma coisa, mas ele também nunca mais me disse nada e eu também não", disse.

O ex-governante disse que a direção-geral do Orçamento "não tinha nenhuma tutela sobre os fundos militares" cuja gestão financeira "passava à margem do ministério das Finanças", liderado pelo hoje Presidente da República, Cavaco Silva.

"E como não havia despesa orçamental também não havia receita. Estava à margem", disse, sublinhando o contexto político da época, um "estado pós-revolucionário" em que os militares detinham ainda o poder.

O encontro casual narrado por Rui Carp, que disse estar a revelá-lo pela primeira vez, suscitou a curiosidade dos deputados da 10ª comissão de inquérito, que confrontaram o ex-secretário de Estado com uma versão diferente dos acontecimentos, relatada pelo jornalista Frederico Duarte Carvalho, no livro editado em 2012 "Sá Carneiro e as Armas para o Irão".

No livro, Frederico Duarte Carvalho refere que Rui Carp lhe disse que chegou a fazer "diligências junto dos militares sobre esses dinheiros do fundo" e que "chegou a trocar impressões com Adelino Amaro da Costa sobre a investigação pois era habitual cruzar-se com ele à hora do almoço" e que "era comum" almoçar com ele na pastelaria Central da Baixa, à Rua do Ouro.

Confrontado com esta versão, retirada do livro pela deputada do PS Isabel Oneto, Rui Carp manifestou estupefacção, disse não se lembrar de falar com o jornalista e negou que tivesse alguma vez falado com militares.

"Eu nunca podia dizer uma coisa dessas porque o subsecretário de estado da altura não falava com os generais do Conselho da Revolução. Mesmo pondo-me em bicos de pés, não chegava à altura dos generais", ironizou.

Contactado pela Lusa, Frederico Duarte Carvalho disse que recolheu, identificando-se como jornalista, aquelas informações do próprio Rui Carp quando o encontrou numa "feira de antiguidades, em Lisboa", em 2011.

Perante o depoimento de Rui Carp, Isabel Oneto, do PS, manifestou estranheza pelo "silêncio" a que o poder político à época votou o assunto do Fundo de Defesa Militar do Ultramar.

"E custa-me também que este assunto lhe tivesse chegado à mão por uma coincidência num encontro num almoço", exclamou a deputada.

"Ou há um silêncio sobre esta matéria e quem exercia o poder achou que era melhor não falar sobre ele ou então o assunto não era tão explosivo quanto isso. Eu não acredito que um assunto desta natureza que preocupava Amaro da Costa não fosse falado ao mais alto nível da coligação, [Aliança Democrática]", acrescentou.

A 10ª comissão de inquérito ao caso Camarate prossegue os trabalhos da anterior, que visava averiguar as "causas e circunstâncias em que, no dia 4 de dezembro de 1980, ocorreu a morte do primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro, do ministro da Defesa Nacional, Adelino Amaro da Costa, e dos seus acompanhantes".

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