Rui Gaudêncio, o homem que há oito anos foi notícia por ter arrecadado o segundo prémio do Euromilhões, morreu na manhã do último domingo numa piscina em Penha Garcia, perto da aldeia onde vivia, Salvador, no distrito de Castelo Branco.

O antigo pastor de 52 anos terá passado a noite antes do acidente numa festa popular em Penha Garcia. De manhã, sem dormir, esteve com um grupo de amigos no bar da piscina do empreendimento turístico Fronteiratur.

Aparentava estar tudo bem até Rui deixar o grupo, dirigir-se à casa de banho, tirar a roupa e descer as escadas para a zona mais funda da piscina, acabando por submergir de imediato, inanimado.

Estava alcoolizado e “devia estar a sentir-se mal, pensou que entrando na água aliviava”, contou ao Notícias ao Minuto Isaías Antunes, gerente do empreendimento Fronteiratur, que estava presente no local quando tudo aconteceu.

Rui sabia nadar, garante quem o conhece, mas quando frequentava o espaço no passado não costumava entrar na piscina. Quem estava por perto saltou para a água. “Tiraram-no logo mas, não reagiu”.

“Não foi por falta de socorro que faleceu”, garante Isaías Antunes. Os bombeiros tentaram reanimar Rui Gaudêncio durante 30 minutos e os elementos do INEM durante mais 10 minutos, sem sucesso.

A autópsia foi realizada na segunda-feira, mas os resultados ainda não são conhecidos.

Da pobreza extrema ao milhão 

Em 2009, a vida do homem conhecido na terra natal por Rui 'Pelintra' deu uma reviravolta. A sorte pôs-lhe mais de um milhão de euros no bolso, 1.077.922 euros e oitenta e nove cêntimos, mais precisamente, graças a cinco números e uma estrela escolhidos aleatoriamente pelo terminal automático. Ganhou também uma nova alcunha: Rui 'Milionário'.

Antes do conforto financeiro, chegou a ter de pedir esmola. Sem trabalho fixo, pastou rebanhos, foi trabalhador sazonal na apanha de fruta e tabaco em Portugal e Espanha, dormiu no chão e passou fome. Após anos de privação, desde que venceu o Euromilhões Rui Gaudêncio viu os seus problemas de saúde - diabetes e uma doença cardíaca -, agravados pelos excessos.

Por outro lado, manteve-se humilde e pouco terá despendido da fortuna. Analfabeto e sem conta no banco, entrevistado depois de ganhar o novo milionário não conseguiu precisar quanto ganhara e o que poderia com ele comprar. No topo da lista estava uma concertina.

Além de várias concertinas, instrumento que Rui não sabia tocar mas que muito apreciava, o milionário comprou uma casa, ofereceu uma carrinha à banda filarmónica da Aldeia de João Pires, onde foi aceite como porta-estandarte, e cumpriu o sonho de tocar em palco com Quim Barreiros, na festa popular de Salvador.