Docente na Universidade Lusíada do Porto e convidado de terça-feira do Seminário do Centro de Estudos Africanos (ISCTE/IUL), numa palestra dedicada às políticas de cooperação chinesa e japonesa em África, Raposo afirma que a China é um parceiro “muito mais atractivo” para os países africanos do que os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que condicionam a sua ajuda à democracia e direitos humanos nos países beneficiários.
“A China veio retirar protagonismo ao Japão, que queria ser ele o representante da Ásia em África”, disse à Lusa o investigador, doutorado no Japão.
"A China tem uma política mais pragmática, continua a não se importar muito com questões de Direitos Humanos, não lhe faz grande confusão. O Japão tem de proteger sempre a face e, como país desenvolvido, as questões de direitos humanos são muito importantes”, adiantou.
O apoio japonês está hoje ligado à recolha de apoios para a candidatura a membro permanente do Conselho de Segurança, depois de no início se ter aproximado de África à procura de recursos naturais e, sobretudo a partir da década de 1980, ter tentado "mudar de imagem".
Tal como a China hoje, o Japão quis assumir-se como proponente de um novo modelo de desenvolvimento para África alternativo ao do Consenso de Washington, comungando ambos os países da rejeição das suas receitas “neoliberais” de privatização e abertura de mercados.
“Para a China [o modelo alternativo] significa mais comércio e cooperação económica. Para o Japão, significa mais transferência da sua experiência asiática, do seu modelo de crescimento económico”, começando pelas infra-estruturas básicas, da Educação à Agricultura.
Também como a China, o Japão pauta por uma ajuda ao desenvolvimento à margem de questões políticas e da não-ingerência em assuntos internos dos países beneficiários.
“O que a China está a fazer agora, já o Japão o fez no passado. Mas agora é um país desenvolvido e tem de pautar-se pelas regras da OCDE”, afirmou.
Por ano, disse o investigador, a ajuda ao desenvolvimento japonesa destina-se a infra-estruturas sociais, como água e saneamento ou educação, oscilando entre 1.000 milhões e 1.500 milhões de dólares, além de ser dos principais financiadores da ONU, a par dos Estados Unidos.
Enquanto a China é frequentemente criticada por países ocidentais ou organizações não-governamentais por fazer negócios e prestar ajuda a países com mau historial a nível de democracia e direitos humanos, a carta de ajuda ao desenvolvimento do Japão proíbe-o expressamente.
Segundo Raposo, o envolvimento chinês, frequentemente criticado pelos prejuízos ambientais ou falta de transparência, tem sido importante para o desenvolvimento de infra-estruturas de transportes, como acontece com Angola e Moçambique.
O "paradigma mudou" com a entrada em cena de Pequim, obrigando a maiores esforços para assegurar a complementaridade da ajuda entre parceiros, como exemplifica o apoio japonês à desminagem.
“O que interessa fazer uma ponte se a estrada está minada? Fazer um hospital se a volta está tudo minado?”, questionou Amakasu Raposo.