"Este relatório mostra que 1,24 milhões de pessoas morreram nas estradas do mundo em 2010. Isto é inaceitavelmente alto", escreve a directora geral da OMS, Margaret Chan, no prefácio de um documento hoje publicado por aquela agência da ONU.
Produzido no âmbito da Década de Acção pela Segurança Rodoviária 2011-2020, instituída pela ONU em 2010, o relatório sublinha que os acidentes rodoviários são a oitava causa de morte a nível mundial e a primeira entre os jovens dos 15 aos 29 anos.
Além de matarem 1,24 milhões de pessoas por ano, os acidentes de trânsito provocam ferimentos em 20 a 50 milhões de pessoas todos os anos e o custo de lidar com as consequências ascende a milhares de milhões de dólares, adianta o documento.
Para que os números diminuam substancialmente são necessárias mudanças urgentes na legislação, alerta a OMS.
É que, segundo o relatório, entre 2007 e 2010 o número de mortos em acidentes rodoviários não sofreu qualquer diminuição significativa.
Embora 88 Estados-membros, abrangendo 1,6 mil milhões de pessoas, tenham conseguido reduzir o número de mortes, outros 87 países registaram aumentos, pelo que o total se manteve.
Considerando que no mesmo período houve um aumento de 15% no número de veículos registados em todo o mundo, as medidas tomadas para melhorar a segurança rodoviária poderão ter contribuído para mitigar o aumento esperado no número de mortes, admite a OMS.
A organização alerta, no entanto, que apenas um em cada sete países (28 no total) tem legislação abrangente que cubra todos os cinco factores de risco - álcool, excesso de velocidade, uso de capacete, cintos de segurança e sistemas de retenção para as crianças.
Com efeito, apenas 59 países (cobrindo 39% da população mundial) impõem um limite de velocidade de 50 km/h nas localidades; só 89 países (66% da população) têm uma lei que limite a 0,05 gramas de álcool por decilitro de sangue; e só 90 Estados (77% da população) obrigam ao uso de capacete em todos os condutores de todos os tipos de motorizada em todas as estradas.
Além disso, 111 países (69% da população) têm legislação que obriga à utilização de cintos de segurança por todos os ocupantes e só 96 Estados (32% da população) têm legislação a exigir sistemas de retenção infantil.
O relatório sublinha ainda que muitos países, incluindo alguns dos mais bem classificados em termos de segurança nas estradas, admitem que a aplicação destas leis é desadequada.
"É necessária vontade política ao mais alto nível governamental para garantir legislação apropriada sobre segurança rodoviária e a sua aplicação", disse Margaret Chan.
"Se isto não for garantido, as famílias e as comunidades vão continuar a sofrer e os sistemas de saúde vão continuar a aguentar o peso dos ferimentos e da deficiência provocados pelos acidentes".
Entre as populações mais vulneráveis aos acidentes rodoviários estão os peões e os ciclistas, que representam 27% das vítimas a nível global e um terço nos países de baixo e médio rendimento, mas chegam a ser 75% em alguns países.
África é a região onde é mais provável morrer de acidente rodoviário, com 24,1 mortes por 100 mil habitantes, e a Europa o continente com menor risco (10,3 mortes por 100.000).