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História de escravos no Brasil baseada em "estereótipos negativos"

O historiador Bruno Véras afirmou que a história dos africanos escravizados no Brasil ainda é cercada por "mitificação e estereótipos negativos" que os descrevem como se "tivessem sido apenas braços" para o trabalho.

História de escravos no Brasil baseada em "estereótipos negativos"
Notícias ao Minuto

11:45 - 06/12/15 por Lusa

Mundo Historiador

"Muitos dos africanos que foram trazidos ao Brasil no contexto da escravidão atlântica eram letrados em árabe e ajami (línguas africanas escritas em carateres árabes). Antes de serem escravos, eram pessoas e assim se pensavam. Antes de serem braços, eram ideias, visões de mundo e espírito", afirmou o historiador brasileiro, realçando que a visão estereotipada é reproduzida inclusive por livros didáticos.

Véras está a preparar juntamente com outro investigador a primeira edição em português do relato autobiográfico de Mahommah Gardo Baquaqua, nascido na região onde atualmente é o Benim e escravizado no Brasil. O livro foi escrito no Canadá e lançado em Detroit, nos Estados Unidos, em 1854, durante a campanha abolicionista no país.

A estimativa de conclusão da edição em português é o primeiro semestre de 2016. Véras está a desenvolver a sua pesquisa na York University, no Canadá, e também coordena o Projeto Baquaqua, que prevê lançar ainda neste mês uma página na internet em português com material áudio - visual, fontes históricas e um livro interativo sobre o relato.

O historiador e professor na York University Paul Lovejoy afirmou que a história de Baquaqua pode ajudar a mudar a ideia de que africanos escravizados não tinham educação formal.

"As pessoas [escravizadas] tentavam melhorar e construir uma vida melhor para as suas crianças. Eles queriam liberdade e igualdade. Queriam casar-se e ter famílias. Queriam adquirir habilidades que lhes possibilitasse ganhar dinheiro", disse Lovejoy à Lusa.

O professor afirmou também que a autobiografia de Baquaqua mostra aspetos importantes da escravatura no Brasil, incluindo a sua crueldade.

"As crianças devem ser ensinadas sobre essa história porque ela mostra a determinação para continuar, melhorar-se, e resistir à crueldade e às más pessoas que querem explorar os outros", realçou.

Mais comuns nos Estados Unidos, os relatos de africanos escravizados são raros no Brasil. Véras afirmou que, nos países anglófonos, alguns escravos cristãos protestantes aprendiam a escrever devido ao ensino da bíblia e, ligados a círculos abolicionistas, relatavam as suas histórias.

Já no Brasil, a produção e divulgação das narrativas não eram estratégias usadas pelos abolicionistas.

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