A manifestação foi uma das 135 iniciativas de apoio a presos da ETA e a outros membros da organização terrorista que vivem no estrangeiro para escapar à justiça espanhola que já ocorreram este verão no País Basco e na região vizinha de Navarra.
A contabilidade é da associação de vítimas do terrorismo Covite, segundo a qual 26 dessas iniciativas foram promovidas por autarquias governadas pelo partido da esquerda independentista basca EH Bildu, que as incluíram no calendário oficial de festividades.
O EH Bildu integra antigos membros da ETA, o grupo terrorista que defendia a independência do País Basco e que anunciou o fim da atividade em 2011 e a extinção em 2018.
Entre as iniciativas contabilizadas pela Covite estão manifestações, desfiles, concertos, bailes ou colocação de cartazes em que se defende a libertação dos presos da ETA ou que haja um amnistia que permita o regresso a Espanha de antigos membros da organização, atendendo a que já cessou a atividade.
São iniciativas que ajudam a que "as novas gerações assimilem uma visão distorcida daquilo que foi o terrorismo, apresentando os membros da ETA como heróis dignos de reconhecimento e merecedores de impunidade", disse recentemente a presidente da Covite, Consuelo Ordóñez, à agência de notícias EFE.
Consulo Ordónez realçou que apesar de haver "honrosas exceções, uma parte da sociedade assiste impassível e sem protestar" à utilização dos espaços festivos para "exaltar assassinos e condenados por delitos de terrorismo muito graves".
Para a presidente da Covite, "não basta lamentar todos os anos estes atos" e é preciso legislação "para sancionar de forma imediata quem promove qualquer manifestação pública que glorifica a ETA e os seus membros".
A manifestação de hoje em Bilbau, à semelhança de outra na semana passada em San Sebastian, foi organizada pela associação Sare, de apoio aos presos da ETA.
Num comunicado lido no desfile e divulgado pela Sare, a associação diz que "a resolução definitiva do conflito" no País Basco "chegará com a eliminação de leis e políticas de exceção".
"Temos de acabar com as leis e políticas que nos atam ao passado se queremos dar o salto para o futuro, para a convivência", defende a associação.
"As vítimas têm direito à verdade, a serem reconhecidas por parte das instituições e à reparação e devemos avançar nesse caminho. Não podemos, no entanto, esquecer que para dar o salto para os cenários de convivência que tanto ansiamos, será imprescindível acabar com todos os sofrimentos e consequências e isso implica, também, dar uma resolução definitiva à questão dos e das presas, exiladas e deportadas bascas", lê-se no mesmo texto.
A Associação de Vítimas do Terrorismo (AVT) pediu à justiça, sem êxito, a proibição da manifestação de hoje em Bilbau.
Para esta associação, é condenável e inaceitável o uso de termos como "conflito" "refugiados ou deportados" por parte da Sare, assim como pedir "a libertação imediata de presos condenados por terrorismo", que significaria "ignorar a gravidade dos seus delitos e a justiça para as vítimas".
"Não existem refugiados nem deportados, são terroristas que têm contas pendentes com a justiça e optam por não regressar a Espanha", disse a AVT, num comunicado.
A associação considerou ainda que falar na superação de "um conflito" é revitimizar as vítimas da ETA, porque é o mesmo que "afirmar que participaram num confronto entre dois lados em que todos foram, em simultâneo, vítimas e vitimários".
São atribuídas à ETA 853 mortes em décadas de atentados.
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