"É importante que todos os líderes que têm uma margem de manobra tangível com a Rússia enviem os sinais apropriados", comentou Zelensky numa mensagem publicada nas redes sociais, no final do que descreveu como uma longa conversa telefónica com o chefe do Governo indiano.
Nesse sentido, o líder ucraniano pediu que sejam limitadas as exportações de energia da Rússia, especialmente petróleo, "para reduzir o seu potencial e capacidade de financiar a continuação desta guerra".
A par da China, a Índia é um dos países que tem adquirido hidrocarbonetos e outros produtos à Rússia, que encontra nos dois gigantes asiáticos uma forma de contornar as sanções económicas aplicadas pelo Ocidente a Moscovo.
A Índia é o terceiro maior importador de petróleo bruto do mundo e adotou uma postura neutra e pragmática em relação à invasão russa da Ucrânia, passando de menos de 2% do seu petróleo importado da Rússia para mais de um terço, fazendo de Moscovo o seu principal fornecedor e aproveitando os descontos oferecidos pelo Kremlin.
A poucos dias da cimeira marcada para sexta-feira no Alasca pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, com o homólogo russo, Vladimir Putin, o apelo do líder ucraniano está em linha com a pressão dos Estados Unidos sobre a Índia, que viu as suas tarifas comerciais agravadas até 50% como forma de distanciar Nova Deli de Moscovo.
Antes de anunciar o encontro com o líder do Kremlin, Trump tinha dado um ultimato a Moscovo para suspender os combates na Ucrânia, sob ameaça de agravamento das sanções e de tarifas secundárias para os países importadores de hidrocarbonetos russos.
Na chamada de hoje, o Presidente ucraniano relatou os últimos bombardeamentos da Rússia no seu país e os intensos esforços diplomáticos em curso, instando Modi a concordar que nenhum progresso na resolução do conflito na Ucrânia pode deixar Kiev à margem.
"Tudo o que está relacionado com a Ucrânia deve ser decidido com a participação da Ucrânia", insistiu Zelensky, num apelo que tem sido também reproduzido pelos principais líderes europeus, e deixou o aviso de que qualquer outro formato "não produzirá resultados".
Modi e Zelensky concordaram também em reunir-se em setembro, aproveitando a presença de ambos em Nova Iorque para as sessões da Assembleia-Geral das Nações Unidas, e expressaram a disponibilidade para realizarem visitas recíprocas no futuro.
Após a chamada com Zelensky, o primeiro-ministro indiano expressou o seu apoio a um fim "pacífico e rápido" para a guerra na Ucrânia, do mesmo modo que já tinha afirmado no seguimento de um telefonema na semana passada com Putin.
"A Índia continua empenhada em prestar toda a assistência possível neste sentido, bem como em reforçar ainda mais as suas relações bilaterais com a Ucrânia", declarou Modi.
Antes da reunião no Alasca, que não prevê a sua presença, Volodymyr Zelensky tem realizado múltiplos contactos com os seus principais aliados nos últimos dias e hoje voltou a apelar para que não se ceda às exigências de Vladimir Putin.
"A Rússia recusa-se a parar os massacres e, por isso, não deve receber quaisquer recompensas ou vantagens. E esta não é apenas uma posição moral, é uma posição racional", afirmou Zelensky nas redes sociais, acrescentando que eventuais concessões territoriais, admitidas por Trump, "não persuadem um assassino".
Antes da cimeira dos líderes russo e norte-americano, os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia reúnem-se hoje de urgência para concertarem posições.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, convidou pelo seu lado os presidentes dos Estados Unidos e da Ucrânia, o secretário-geral da NATO e vários líderes europeus para uma reunião virtual na quarta-feira.
Segundo Berlim, as negociações deverão focar-se "noutras opções de ação para pressionar a Rússia", bem como em "preparações para possíveis negociações de paz e questões relacionadas a reivindicações territoriais e segurança".
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