A ponte sobre o estreito de Messina, que ligaria Sicília e o continente italiano é uma discussão que dura há tanto tempo, ou mais, que a do novo aeroporto em Portugal.
Desde 1969 (há já 56 anos) que a proposta foi aprovada e cancelada diversas vezes por diferentes governantes de Itália. O problema, que gera contestação na esfera política, mas também nas ruas, centra-se no uso de dinheiros públicos para a construção da ponte - um investimento que o governo atual estima chegar aos 13,5 mil milhões de euros.
O executivo italiano defende que a ponte vai ser um "acelerador de desenvolvimento", mas muitas outras vozes insurgirem-se contra o projeto e alertam que se trata de um "esbanjamento" de dinheiro público, necessário noutros domínios.
No sábado, dia 9 de agosto, o descontentamento rumou às ruas de Sicília, com milhares de pessoas com cartazes a dizerem "não à ponte".
Veja as imagens do protesto na nossa galeria.
Messina: decine di migliaia di persone in piazza contro il ponte ad agosto alle 6 di pomeriggio in sicilia, ma non lo leggerete da nessuna parte perche non conviene a nessuno che si veda come la pensano i locali pic.twitter.com/EgCnzKeY36
— arcade (@bbbb1_2_) August 11, 2025
A máfia pode infiltrar-se no continente ou desviar o dinheiro
As preocupações não se centram apenas no uso de dinheiros públicos para o projeto, mas também no facto de poderem vir a ser desviados pelas máfias de Sicília e da Calábria, que têm uma influência política forte no sul de Itália.
Aliás, a ponte, que deverá ligar os dois estreitos de Messina, era também uma ambição do ex-primeiro-ministro Sílvio Berlusconi (que liderou o país três vezes, a última de 2008 a 2011). O também magnata acabou por nunca avançar com o projeto, devido ao alto custo do investimento, a preocupações ambientais e também receios de infiltração da máfia para o continente italiano.
Para avançar, o projeto precisa de ser aprovado pelo Tribunal de Contas de Itália e por agências ambientais, tanto nacionais como da União Europeia.
"Agora é necessário o visto do Tribunal de Contas, mas conto começar com os estaleiros, as obras e as expropriações entre setembro e outubro. Se continuarmos como começámos, o objetivo é podermos atravessar a ponte entre 2032 e 2033, como previsto pelos engenheiros", disse o ministro dos Transportes e Infraestruturas, Matteo Salvini, em conferência de imprensa.
Moradores podem contestar a decisão e atrasar o projeto
Mas, para além do aval dos tribunais e das agências, os próprios moradores locais, de ambos os lados do estreito, também têm um voto na matéria.
Caso possuam propriedades que tenham de ser expropriadas com a construção da ponte, têm de ser consultados e podem mesmo contestar a decisão - o que, por consequência, adia ou pode mesmo paralisar por completo a operação (de novo).
O projeto inclui a construção de uma ponte suspensa de 3,3 quilómetros, o que a tornará a maior do mundo, com duas vias férreas no centro e três faixas de rodagem de cada lado, e ainda 40 quilómetros de ligações rodoviárias e ferroviárias, três novas estações ferroviárias e um centro de negócios na Calábria.
Para além disso, o governo italiano estima que a ponte gere cerca de 120 mil empregos por ano e fomente o crescimento económico na região.
Governo garante que a máfia não se vai infiltrar no projeto
Quanto à preocupação com as máfias que dominam a Sicília e a Calábria, Salvini garantiu que o governo vai vigiar "toda a cadeia de abastecimento" da obra para que seja impermeável a infiltrações mafiosas.
Roma pretende reclassificar este projeto como militar, para se aproximar do compromisso recentemente assumido pelos Estados-membros da NATO de consagrarem 5% dos respetivos PIB (produto interno bruto) a gastos em Defesa, até 2035. Argumentam que a ponte vai aumentar a mobilidade militar da Aliança, ao permitir a rápida transferência de tropas e equipamento entre o Norte da Europa e a região do Mediterrâneo.
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