"[António Guterres] está profundamente alarmado com a decisão do Governo israelita de 'tomar o controlo da cidade de Gaza' (...). Poderá agravar as já catastróficas consequências para milhões de palestinianos", declarou a sua porta-voz adjunta, Stephanie Tremblay, num comunicado.
O líder das Nações Unidas, que recordou que os palestinianos da Faixa de Gaza "continuam a sofrer uma catástrofe humanitária de proporções aterradoras", alertou para que esta nova escalada do conflito "conduzirá a novas deslocações forçadas, mortes e destruição maciça, trazendo um sofrimento inimaginável à população palestiniana".
Reiterou, por isso, o seu apelo para um cessar-fogo e para a entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano, instando simultaneamente as autoridades israelitas a cumprirem as suas obrigações ao abrigo do Direito Humanitário Internacional.
Guterres recordou que o Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) declarou que o Estado de Israel tem a obrigação de "pôr termo à sua presença ilegal nos territórios palestinianos ocupados - que abrangem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, incluindo Jerusalém Oriental - o mais rapidamente possível".
"Não haverá uma solução sustentável para este conflito sem o fim da ocupação ilegal e sem uma solução viável de dois Estados. Gaza é e deve continuar a ser parte integrante de um Estado palestiniano", sustentou.
O gabinete de segurança do Governo israelita anunciou hoje a aprovação de um plano para a ocupação total da Faixa de Gaza, a começar pela cidade de Gaza, situada no norte da Faixa de Gaza e com cerca de um milhão de habitantes, metade da população do enclave.
Os habitantes da cidade de Gaza serão deslocados para sul até 07 de outubro, data do segundo aniversário do ataque do Hamas a Israel, que fez cerca de 1.200 mortos e 251 reféns e desencadeou no mesmo dia a guerra israelita ainda em curso no território palestiniano.
Até agora, bombardeamentos e ofensivas terrestres fizeram mais de 61.000 mortos e 150.000 feridos, na maioria civis, além de milhares soterrados sob os escombros, segundo os mais recentes dados das autoridades locais, considerados pela ONU fidedignos.
Prosseguem também diariamente as mortes por fome, causadas pelo bloqueio de ajuda humanitária durante mais de dois meses, seguido da proibição israelita de entrada no território de agências humanitárias da ONU e organizações não-governamentais (ONG).
Alguns mantimentos estão desde então a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis palestinianos desesperados para obter comida, fazendo milhares de mortos e feridos.
Há muito que a ONU declarou o território mergulhado numa grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU tinha acusado Israel de genocídio em Gaza e de estar a usar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.
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