Num relatório publicado na quinta-feira, o grupo de reflexão, com sede em Hong Kong, lembra que os parceiros comerciais de Washington, incluindo Japão e União Europeia, aceitaram tarifas gerais de cerca de 15%, acompanhadas de promessas de investimento nos Estados Unidos que são "largamente fictícias", mas que, para Trump, oferecem "demonstrações de subserviência", o que lhe permite proclamar vitórias políticas.
"A grande incógnita é até que ponto um eventual acordo com Pequim diferirá deste modelo", lê-se no relatório, assinado pelo analista Arthur Kroeber.
A mais recente ronda de negociações, realizada em Estocolmo, resultou na prorrogação do prazo para alcançar um entendimento, de 12 de agosto para 10 de novembro, um prazo que "faz sentido", uma vez que é agora "óbvio que o principal objetivo de Trump é tentar marcar uma viagem à China no outono, quando poderia fechar um acordo com [o Presidente chinês,] Xi Jinping, cara a cara", aponta a Gavekal Dragonomics.
O relatório nota que a tarifa final aplicada à China deverá ser "substancialmente mais alta" do que a de outros países -- atualmente ronda 45% em termos efetivos --, mas poderá ficar ligeiramente abaixo desse nível, dado o poder negocial de Pequim no fornecimento de terras raras e a vantagem política de um eventual acordo sobre o fentanil.
A Gavekal Dragonomics afirma, no entanto, que apesar da escalada tarifária, a China mostra-se "pouco preocupada".
A reunião do Politburo do Partido Comunista Chinês, a cúpula do poder na China, realizada em julho e dedicada à economia, terminou sem mudanças de política relevantes e com a reafirmação da atual orientação fiscal e monetária.
As perdas nas exportações para os Estados Unidos têm sido compensadas com ganhos noutros mercados, em parte devido ao comércio triangular de bens destinados ao mercado norte-americano: os produtos quase acabados saem da China para países como Vietname, Camboja ou Tailândia, onde recebem um acabamento ou componente adicional e depois são exportados para os EUA como se fossem originários desses países, contornando as tarifas.
O grupo de reflexão refere assim que os EUA abandonaram discretamente a estratégia de usar as negociações para formar uma coligação protecionista contra a China, ao mesmo tempo que as próprias políticas de Trump corroem a competitividade norte-americana. No primeiro semestre de 2025, o crescimento do Produto Interno Bruto dos EUA ficou cerca de um ponto percentual abaixo das previsões feitas em novembro passado, enquanto a inflação subjacente foi um ponto superior.
Modelos do Yale Budget Lab, centro de investigação vinculado à Universidade de Yale (EUA), citados no relatório, estimam que, a longo prazo, as tarifas terão impacto negativo em setores como a construção e a indústria transformadora avançada, áreas em que a China deverá continuar a ganhar quota de mercado global, aumentando assim o seu poder económico e militar.
A Gavekal Dragonomics conclui que Pequim tem incentivos para prolongar as negociações, na expectativa de que Trump se mostre mais pressionado para fechar um acordo.
No entanto, dificilmente poderá replicar as promessas de investimento incluídas nos acordos com Japão e UE, devido aos receios em Washington quanto a projetos chineses de grande dimensão.
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