"Inaceitável que o Irão tenha optado por suspender a cooperação com a AIEA numa altura em que tem a oportunidade de inverter o rumo e escolher um caminho de paz e prosperidade", comentou aos jornalistas a porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, equivalente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Nesse sentido, Tammy Bruce frisou que o Irão "deve cooperar" com a agência de supervisão das Nações Unidas.
O presidente iraniano, Massoud Pezeshkian, deu hoje a aprovação final à legislação que suspende a cooperação com a AIEA, dando sequência a uma votação anterior no parlamento.
Com esta aprovação, entrou em vigor a medida tomada após a guerra de 12 dias entre o Irão e Israel, durante a qual infraestruturas nucleares do Irão foram alvo de ataques aéreos israelitas e também dos Estados Unidos.
Em reação, o porta-voz do secretário-geral da ONU comentou que a suspensão da cooperação do Irão com a AIEA é "obviamente preocupante".
O secretário-geral, António Guterres, "tem sido consistente no seu apelo para que o Irão coopere com a AIEA", disse Stéphane Dujarric aos jornalistas.
Israel, pelo seu lado, apelou hoje ao chamado grupo E3 - França, Reino Unido e Alemanha - para reativar todas as sanções contra o Irão.
O ministro dos Negócios Estrangeiros israelita, Gideon Saar, criticou o "anúncio escandaloso" do Irão, que descreveu como "uma renúncia total a todas as suas obrigações e compromissos nucleares internacionais".
Gideon Saar defendeu ainda que "a comunidade internacional deve agir decisivamente agora e utilizar todos os meios ao seu dispor para travar as ambições nucleares" iranianas.
O Governo iraniano acusa o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, de "obscurecer a verdade" com um "relatório tendencioso" e instrumentalizado pelo grupo E3 e pelos Estados Unidos para preparar a resolução aprovada a 12 de junho pelo Conselho de Governadores da AIEA, dando conta de que Teerão estava a violar as suas obrigações pela primeira vez em duas décadas.
No dia seguinte, em 13 de junho, Israel lançou uma série de ataques aéreos contra o Irão e seguiram-se 12 dias de fogo cruzado entre os dois países, a que se somou, no dia 22, um ataque surpresa dos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas.
Um cessar-fogo entrou em vigor na semana pasada, mas Israel e Estados Unidos continuam a colocar pressão sobre a República Islâmica para que cesse todos os planos de enriquecimento de urânio para produzir uma arma nuclear.
Teerão insiste que o seu programa de energia tem apenas usos civis e pacíficos.
O acordo nuclear de 2015 entre o Irão e as potências mundiais permitiu ao Irão enriquecer urânio a 3,67%, o suficiente para abastecer uma central nuclear, mas muito abaixo do limiar de 90% necessário para o fabrico de armamento.
O entendimento também reduziu as reservas de urânio do Irão, limitou a utilização de centrifugadoras e confiou à AIEA a tarefa de supervisionar o cumprimento das normas por parte de Teerão.
Em 2018, no exercício do seu primeiro mandato na Casa Branca, o presidente norte-americano, Donald Trump, retirou unilateralmente os Estados Unidos do acordo.
Desde essa altura, o Irão tem vindo a enriquecer urânio até 60%.
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