"As mudanças climáticas não estão a escolher os ricos e os pobres, os desenvolvidos e os não desenvolvidos, os desenvolvidos e em vias de desenvolvimento. As mudanças climáticas afetam todos nós. É importante que tanto os países como as pessoas percebam isso", disse Daniel Chapo, em entrevista à agência Lusa em Sevilha, onde está a participar na IV Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento das Nações Unidas.
Daniel Chapo sublinhou que para minimizar as alterações climáticas e os seus efeitos é preciso unidade a nível mundial e encontrar mecanismos comuns.
"O sinal é que vamos morrer todos", disse o Presidente moçambicano, insistindo que se não houver atuação em relação clima e "financiamento climático", nos países mais vulneráveis e em vias de desenvolvimento, todo o resto do planeta acabará por sofrer impactos.
Os 192 países membros da ONU presentes em Sevilha adotaram na segunda-feira, no arranque dos trabalhos da conferência, o documento "Compromisso de Sevilha", em que assumem compromissos para a próxima década em termos de cooperação internacional e financiamento para o desenvolvimento, que a ONU diz ter atualmente um défice de quatro biliões de dólares (cerca de 3,4 biliões de euros) anuais.
Daniel Chapo congratulou-se com a conferência e o conteúdo deste documento, considerando que, precisamente, "reitera a importância do multilateralismo", num momento que cresce no mundo "uma onda de nacionalismo" e "uma corrente que não acredita muito no multilateralismo".
"Não há nenhum país que se vá desenvolver de forma isolada. É muito importante que haja os mecanismos de financiamento multilateral porque permitem ao mundo perceber aonde é que nós estamos a ir e quais são as soluções que nós podemos trazer", afirmou.
Daniel Chapo insistiu que não desvaloriza ou não considera importante o bilateralismo: "Continuo a acreditar que as duas vias são muito importantes para o desenvolvimento do mundo".
"Portanto, o 'Compromisso de Sevilha' é muito importante neste sentido, reitera a importância do multilateralismo e achamos que temos de continuar a trabalhar nas duas vias", sublinhou.
O Presidente da Moçambique levou a esta conferência da ONU uma proposta para ser criada uma "parceria global para o financiamento climático", com a criação de um "fundo climático" que "permita que todos os países, incluindo tanto os chamados desenvolvidos como os chamados em vias de desenvolvimento, possam levar a cabo projetos que causam menos danos à camada de ozono".
Este fundo climático que propõe Moçambique, explicou Daniel Chapo, teria ainda uma outra perspetiva, a de que "a geografia não é justa" ou de "compensação", uma vez que há países que contribuíram mais e continuam a contribuir mais para as emissões poluentes e as alterações climáticas, mas as consequências são para todos, mesmo ou sobretudo para os que pouco ou nada contribuíram para a crise ambiental.
É este o caso de Moçambique, um país na costa do Índico que "sofre ciclicamente" fenómenos meteorológicos extremos, como cheias ou anticiclones, que destroem "infraestruturas, bens públicos e privados" e colocam as comunidades locais "já vulneráveis em situação de extrema pobreza".
"Quando eu falo de financiamento climático é em duas perspetivas. A primeira é haver uma espécie de compensação, no sentido de aqueles que emitem mais possam realmente encontrar uma forma de minimizar ou ressarcir os danos dos outros que estão geograficamente localizados de forma mais vulnerável", explicou Daniel Chapo, que defendeu, por exemplo, mais projetos e acordos de conversão de dívida soberana dos países em desenvolvimento em projetos verdes, em âmbitos como a energia.
Neste contexto, defendeu a criação de novos bancos de desenvolvimento multilaterais ou nacionais focados nestes objetivos e que fossem os gestores de verbas do "fundo climático" global proposto por Moçambique, trabalhando em conjunto com o setor privado.
De fora do 'Compromisso de Sevilha' ficaram os EUA, o país que mais contribui para a ajuda pública internacional ao desenvolvimento. Por outro lado, passaram por Sevilha cerca de 60 chefes de Estado e de Governo dos 193 países da ONU, a maioria de países em vias de desenvolvimento, num claro desequilíbrio de representação de alto nível em relação aos países mais ricos.
Daniel Chapo realçou que todos os países da ONU, menos os EUA, estiveram representados em Sevilha, que "a presença dos chefes de Estado dos países em vias de desenvolvimento é um sinal forte da importância do multilateralismo" e que o documento "Compromisso de Sevilha" foi negociado com todos os membros das Nações Unidas, de forma aprofundada, nas reuniões técnicas que precederam esta conferência, o que considerou "muito importante".
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