"À medida que mais e mais civis sofrem as consequências cruéis da terrível escalada militar no Irão e em Israel desde 13 de junho de 2025, por entre ameaças de uma nova escalada do conflito, a Amnistia Internacional insta as autoridades israelitas e iranianas a cumprirem as suas obrigações ao abrigo do direito internacional humanitário de proteger os civis", declarou a organização num comunicado.
Sublinhando que "o direito internacional humanitário proíbe estritamente ataques dirigidos contra civis e objetos civis", a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, insistiu que "impedir mais sofrimento deve ser a prioridade, não a procura de objetivos militares ou geopolíticos".
Israel lançou na madrugada de 13 de junho uma ofensiva sobre o Irão, argumentando que o avanço do programa nuclear iraniano e o fabrico de mísseis balísticos por Teerão representam uma ameaça direta à sua segurança.
Teerão indicou hoje que os bombardeamentos já fizeram pelo menos 232 mortos e 1.800 feridos, e o Governo israelita informou que os mísseis lançados pelo Irão em retaliação causaram a morte de 24 pessoas em território israelita.
"As declarações dos Estados Unidos e do G7 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo), até agora, não reconheceram o impacto catastrófico que esta escalada terá sobre os civis em ambos os países", prosseguiu a responsável da organização de defesa dos direitos humanos.
Segundo Callamard, "em vez de torcer por uma das partes do conflito em detrimento da outra, como se o sofrimento civil fosse um mero espetáculo secundário, os Estados devem garantir a proteção dos civis".
Acusou também "tanto as autoridades israelitas quanto as iranianas de terem repetidamente demonstrado o seu total desrespeito pelos direitos humanos internacionais e pelo direito humanitário, cometendo graves crimes internacionais com impunidade".
Referia-se à guerra que Israel trava desde 07 de outubro de 2023 na Faixa de Gaza contra o grupo islamita palestiniano Hamas, em retaliação pelo ataque por este cometido horas antes em território israelita, que fez cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 reféns.
A ofensiva israelita em Gaza já fez 55.500 mortos e quase 130.000 feridos, de acordo com números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
Após quase três meses de bloqueio da ajuda humanitária por Israel, alguns mantimentos estão agora a entrar a conta-gotas e a ser distribuídos em pontos considerados "seguros" pelo Exército, que já várias vezes abriu fogo sobre civis palestinianos que tentavam obter comida, fazendo centenas de vítimas, segundo as autoridades locais.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusou Israel de genocídio no território palestiniano e de utilizar a fome como arma de guerra - acusação logo refutada pelo Governo israelita, mas sem apresentar quaisquer argumentos.
Retomada a ofensiva a 18 de março, após um cessar-fogo de dois meses, o Governo de Benjamin Netanyahu anunciou, no início de maio, um plano para "conquistar" Gaza, que Israel ocupou entre 1967 e 2005, encontrando-se mais de 80% do território sob ordens de evacuação.
"O mundo não deve permitir que Israel use a escalada militar no Irão para desviar a atenção do genocídio em curso contra os palestinianos na Faixa de Gaza ocupada, da ocupação ilegal de todo o Território Palestiniano Ocupado e do seu sistema de 'apartheid' contra os palestinianos", sustentou Agnès Callamard.
"Da mesma forma, a comunidade internacional não deve ignorar o sofrimento que décadas de crimes contra o Direito Internacional cometidos pelas autoridades iranianas infligiram ao povo dentro do Irão, que agora está a ser agravado por bombardeamentos implacáveis", vincou a representante.
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