A cimeira Ásia Central -- China, de decorre na capital cazaque, Astana, acontece dois anos após a primeira, realizada na China, e reúne Xi Jinping - que chegou na segunda-feira ao país - com os líderes do Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Tajiquistão e Turquemenistão.
Um "tratado de boa vizinhança, amizade e cooperação eternas" deve ser assinado, de acordo com a diplomacia cazaque.
"Os líderes dos diferentes países traçarão juntos um novo roteiro para a cooperação futura", disse Guo Jiakun, porta-voz da diplomacia chinesa.
Sob influência russa entre meados do século XIX e a queda da União Soviética em 1991, a Ásia Central, cuja localização geográfica entre a Ásia e a Europa é estratégica e rica em recursos naturais, é cobiçada pelas grandes potências que tentam competir com Moscovo.
Embora os líderes da Ásia Central mantenham fortes laços com a Rússia, o declínio da influência deste país acentuou-se desde a guerra na Ucrânia.
As cinco antigas repúblicas soviéticas da região estão a aproveitar este interesse externo crescente e a coordenar as respetivas diplomacias, como demonstra a multiplicação das cimeiras "5+1".
Os países têm reunido neste formato com a China e a Rússia, mas também com a União Europeia (UE), os Estados Unidos e até mesmo a Turquia e outros países ocidentais.
"Os países da Ásia Central oscilam entre diferentes centros de poder, desejando proteger-se de uma dependência excessiva em relação a um único parceiro", observou Narguiza Mouratalieva, uma analista da política externa da região, citada pela agência France Presse.
Na segunda-feira, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, garantiu "não temer" esta aproximação entre a China, um "parceiro estratégico privilegiado", e os países da Ásia Central, "parceiros históricos naturais".
Símbolo dessa concorrência, o Cazaquistão anunciou no sábado que os russos construirão a primeira central nuclear do país e os chineses provavelmente uma segunda.
A China é o maior parceiro comercial da Ásia Central, com trocas comerciais avaliadas em 95 mil milhões de dólares (82 mil milhões de euros) em 2024, de acordo com as alfândegas chinesas, muito à frente da União Europeia e da Rússia.
A Ásia Central ocupa, por outro lado, um lugar de destaque na iniciativa chinesa Faixa e Rota - um gigantesco plano de investimentos em infraestruturas que engloba 65 países, compreendendo aproximadamente 62% da população do planeta e 30% do Produto Interno Bruto (PIB) global.
"Nem a Rússia nem as instituições ocidentais são capazes de alocar recursos financeiros para infraestruturas tão rapidamente e em tal escala, por vezes contornando procedimentos transparentes", explicou Narguiza Mouratalieva.
As empresas chinesas estão também a multiplicar os acordos no domínio energético, procurando, por exemplo, gás no Turquemenistão, urânio no Cazaquistão e terras raras no Tajiquistão.
"A Ásia Central é rica em recursos naturais de que a economia chinesa, em pleno crescimento, necessita. Para Pequim, garantir um abastecimento ininterrupto desses recursos, contornando as rotas marítimas instáveis, é um objetivo importante", sublinha a politóloga quirguiz.
A China também se apresenta como apoiante dos regimes da Ásia Central, na sua maioria autoritários.
Na cimeira de 2023, Xi Jinping apelou à "resistência às ingerências externas", suscetíveis de provocar "revoluções" que derrubem os poderes instituídos.
"A Ásia Central faz fronteira com a região autónoma uigur de Xinjiang (e) Pequim considera a estabilidade dos Estados da Ásia Central como uma garantia da segurança das fronteiras no oeste" chinês, explicou Mouratalieva.
A China é acusada de ter detido mais de um milhão de uigures, uma minoria chinesa de origem muçulmana, na sua região noroeste, no âmbito de uma política que, segundo a ONU, terá envolvido "crimes contra a humanidade".
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