Entre os nomes mais aguardados para as cerimónias que assinalam o triunfo da União Soviética sobre a Alemanha nazi na Segunda Guerra Mundial, o presidente chinês, Xi Jiping, chegou hoje ao aeroporto de Vnukovo, em Moscovo, onde deverá permanecer vários dias.
Esta viagem, que demonstra a parceria entre a Rússia e a China face ao Ocidente, ocorre numa altura em que os esforços para pôr fim às hostilidades na Ucrânia permanecem num impasse e em pleno confronto comercial entre Pequim e Washington.
O líder do Kremlin rejeitou um cessar-fogo de 30 dias proposto por Kyiv, anunciando em seu lugar uma trégua unilateral entre quinta-feira e sábado, que foi rejeitada pela Ucrânia, cujos ataques aéreos têm visado o território russo, incluindo Moscovo.
Durante o encontro de Xi e Putin, previsto para quinta-feira, serão discutidas "a questão ucraniana e as relações russo-americanas", indicou à imprensa o conselheiro diplomático do Kremlin, Yuri Ushakov.
Os dois líderes vão adotar duas declarações conjuntas, uma sobre relações bilaterais e outra sobre a "estabilidade estratégica global", antes de se dirigirem à imprensa.
Na sexta-feira, Xi Jinping assistirá à grande parada militar na Praça Vermelha para assinalar o 80.º aniversário do Dia da Vitória, prevendo-se que soldados chineses também marchem no desfile, apesar dos avisos da Ucrânia, que vê qualquer participação estrangeira como "apoio ao Estado agressor".
O presidente brasileiro, Lula da Silva, também já se encontra em Moscovo, 15 anos após a sua última visita e a chegada do avião presidencial foi transmitida em direto pela televisão russa.
De acordo com um comunicado de Yuri Ushakov, Putin e Lula da Silva têm previsto um encontro para discutir a cooperação russo-brasileira dentro do grupo BRICS, bem como o conflito na Ucrânia.
"O Brasil, juntamente com a China, iniciou a criação do Grupo de Amigos da Paz na Ucrânia (...) Durante a visita [de Lula], serão discutidas as atividades brasileiras dentro deste grupo, bem como a situação na Ucrânia em geral", disse Ushakov.
A imprensa brasileira relatou que, além da celebração do Dia da Vitória, Lula da Silva visita Moscovo em missão de paz, na tentativa de posicionar o seu país como um potencial mediador do conflito na Ucrânia, um papel que está a ser desempenhado pelos Estados Unidos.
A vitória soviética em 1945 é uma peça central na narrativa patriótica do Kremlin, que traça paralelos com a atual ofensiva russa na Ucrânia, um país que Vladimir Putin afirma querer "desnazificar".
Além de Xi e Lula, também os líderes venezuelano, Nicolás Maduro, e cubano, Miguel Díaz-Canel, chegaram a Moscovo e já se reuniram com Putin.
A lista de convidados para as cerimónias de sexta-feira é indicativa dos países que apoiam Moscovo no contexto da invasão da Ucrânia ou que mantêm uma postura de distância em relação ao conflito.
O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, outro importante aliado cortejado por Putin, era esperado em Moscovo, mas cancelou a viagem devido às tensões militares com o vizinho Paquistão.
Quase todos os líderes dos países ocidentais estarão ausentes, incluindo os Estados Unidos, sendo uma das exceções o presidente sérvio, o nacionalista populista Aleksandar Vucic, que já aterrou em Moscovo, apesar dos avisos de Bruxelas de que os líderes dos países candidatos à União Europeia não deviam comparecer.
"Depois de muitos anos, de volta a Moscovo. Orgulhoso da luta antifascista do meu povo sérvio e grato pela enorme ajuda que recebemos do Exército Vermelho durante a libertação da Sérvia", escreveu Vucic no Instagram.
O líder separatista e pró-russo dos sérvios da Bósnia, Milorad Dodik, procurado pela polícia bósnia por ações inconstitucionais, também deverá estar em Moscovo.
A Rússia confirmou na terça-feira a presença de 29 chefes de Estado e de governo na parada militar, entre os quais o primeiro-ministro eslovaco, o populista Robert Fico, que deste modo se distancia dos restantes parceiros da União Europeia.
O desfile contará com a presença dos líderes da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, e da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang - como o Brasil, países-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) -, além doEgito, Abdel Fattah al-Sisi; República do Congo, Denis Sassou Nguesso; Burkina Faso, Ibrahim Traoré, e Zimbabué, Emmerson Mnangagwa, entre outros.
Além disso, haverá uma grande representação de países que fizeram parte da União Soviética e lutaram contra o nazismo nas fileiras do Exército Vermelho, como o primeiro-ministro da Arménia, Nikol Pashinyan, e o presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko.
O líder checheno, Ramzan Kadyrov, deslocou-se igualmente à capital russa, tendo sido hoje recebido por Putin um dia depois de ter pedido para ser afastado do cargo, tendo ambos elogiado as conquistas e o desenvolvimento na antiga república separatista.
A lista de convidados inclui ainda o secretário-geral do Partido Comunista do Vietname, To Lam, o líder da junta militar de Myanmar, Min Aung Hlaing, e o presidente da Mongólia, Ukhnaa Khurelsuk.
As celebrações do Dia da Vitória têm sido, porém, ameaçadas por relatos de ataques de drones ucranianos contra Moscovo e graves interrupções nos quatro aeroportos da capital, com dezenas de voos atrasados ??ou cancelados.
O reforço da segurança durante as celebrações levou também a restrições no serviço de internet por telemóvel e de outros serviços, como bancos, transportes e supermercados.
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