Hoje, como habitual, à saída da 12.ª Congregação Geral, reunião de cardeais que teve 173 participantes, os jornalistas cercavam com câmaras os que saíam desses encontros, muitas vezes sem sequer saberem o nome de quem falava, apenas na esperança de obter alguma frase sobre o sucessor de Francisco.
Ao lado, a poucos metros, Joss e Oskarín, mascarados a rigor como palhaços e equipados com a credenciação de imprensa, faziam diretos com um sacerdote mexicano sobre a possibilidade de o país ter um novo Papa.
"Estamos assim vestidos, mas damos notícias a quem não costuma assistir à informação chata que vocês fazem", explicou à Lusa Joss, justificando a opção de acompanhar, por estes dias, o Conclave Cardinalício.
"É uma forma de muitas crianças e avós verem notícias", disse Oskarín.
Ao lado, era evidente a chusma de câmaras a rodearem os cardeais que optavam sair pela Praça Pio XII para as residências onde estão até irem pelo conclave.
Bastava ver alguém a sair com o barrete vermelho cardinalício que os jornalistas se juntavam em grupo para tentar saber algum pormenor da Congregação Geral que terminou de manhã.
A maioria dos cardeais não responde, mas quando sorriem e deixam escapar alguma frase o grupo de jornalistas aumenta, num sinal de que irá existir alguma coisa para se citar.
Foi o que se passou com o cardeal tailandês Francis Kovithavanij (75 anos), que disse que a última reunião magna de cardeais antes do conclave "correu bem e foi muito produtiva".
Depois de o dizer, Kovithavanij foi rodeado de vários jornalistas, com muitos a perguntarem se o seu país tinha hipótese de eleger um Papa.
A todos, Kovithavanij sorriu e adiantou esperar um "conclave rápido de poucos dias", porque "os cardeais já se estão a conhecer bem" e a "ter ideias" sobre cada um.
No final, os jornalistas nem sequer perguntaram o nome e, por isso, muitos tiveram de comparar as imagens com as fotos da lista de cardeais até descobrirem quem era.
Mais sorte tiveram os jornalistas que abordaram Seng Chye Goh, que se identificou logo como cardeal de Singapura e que se limitou a dizer que o "Espírito Santo irá iluminar" a decisão do colégio, remetendo para a inspiração divina a responsabilidade do tempo que durar o processo eleitoral.
Os cardeais fizeram voto de sigilo sobre tudo o que se passa nas Congregações Gerais, considerados momentos de debate interno antes do Conclave que terá lugar na Capela Sistina.
Olhando de longe, os dois jornalistas palhaços da TV Azteca dizem que não querem competir com o "jornalismo tradicional" como é feito pelos colegas.
"Estamos aqui para tentar contar histórias simples, mas de forma séria, porque somos missionários católicos e sentimos que estar aqui também é uma forma de vocação", explicou Oskarin.
Na reunião de hoje dos cardeais, segundo o porta-voz do Vaticano, Matteo Bruni, participaram 130 eleitores na 12.ª e última congregação geral de preparação para o Conclave e sublinharam a necessidade do futuro Papa ser "um construtor de pontes, um mestre de humanidade", num contexto de violência e polarização.
Tomaram a palavra 26 cardeais que discutiram, entre outros temas, as reformas do Papa Francisco, a legislação sobre abusos, a economia, a sinodalidade, a paz e o cuidado com o ambiente.
Sobre o perfil do próximo líder da Igreja, os cardeais propuseram "um Papa construtor de pontes, pastor, mestre de humanidade, rosto de uma Igreja samaritana", que mantenha a "misericórdia, sinodalidade e esperança" na organização.
O Conclave tem início na quarta-feira, dia 07 de maio e caberá aos 133 cardeais eleitores, com menos de 80 anos, a responsabilidade de escolher o sucessor de Francisco.
Todos os dias serão feitas quatro votações e o futuro Papa deverá ter pelo menos dois terços dos boletins contados.
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