Os preços dos combustíveis disparam esta segunda-feira e as previsões para os próximos tempos não são animadoras, já que a escalada das tensões no Médio Oriente têm impacto direto nos preços. O economista João Santos considera que o Governo deve agir, já que é possível que os combustíveis atinjam os dois euros por litro.
"Os preços dos combustíveis hoje sobem significativamente, em função da tensão crescente que está a ocorrer, neste momento, no Médio Oriente, em particular do envolvimento direto entre Israel e o Irão", explicou João Santos, em declarações à TVI.
Questionado sobre a possibilidade de voltarmos a ter combustíveis com preço superior a dois euros por litro já este verão, o economista admite que sim, mas "não deverá estar para breve".
"Tudo depende da velocidade a que vai evoluir este conflito. Está tudo a acontecer de forma muito rápida e, portanto, é de admitir que isso possa acontecer, ainda que eu considere pouco plausível, mas eventualmente poderemos vir a ter um cenário desses para depois do verão", explicou João Santos.
O economista considera, porém, que o "Governo não pode ficar inoperante", já que estamos a atravessar um "período complexo, de estagnação económica" e os combustíveis "consomem uma parte do rendimento das famílias e das empresas".
O que se sabe até ao momento é que o ministro de Estado e das Finanças, Joaquim Miranda Sarmento, assegurou, na sexta-feira, que o Executivo de Luís Montenegro está "a acompanhar a situação" no que diz respeito ao aumento do preço do petróleo, na sequência do conflito no Médio Oriente, tendo apontado que atuará com medidas de mitigação nos preços do gasóleo e da gasolina, "se for necessário".
Gasóleo encarece mais: Porquê?
As previsões apontam para uma subida mais acentuada no caso do gasóleo e há fatores que ajudam a explicar esta situação:
"20% do gasóleo que utilizamos na União Europeia é importado da zona do Golfo e essa é uma das razões pelas quais o preço do gasóleo está a subir mais. O gasóleo é produzido com um tipo de crude médio pesado que existe sobretudo na zona do Golfo", disse o economista João Santos, em declarações ao mesmo canal. Outro fator está relacionado com o stock deste combustível, que está em níveis inferiores nos EUA.
De recordar que o Parlamento iraniano recomendou hoje o fecho do Estreito de Ormuz, cuja decisão final compete ao líder supremo da república islâmica, o ayatollah Ali Khamenei.
O Estreito de Ormuz é um dos pontos estratégicos mais importantes do mundo, pelo qual passam cerca de 20% do petróleo mundial e uma parte significativa do gás natural, de modo que qualquer bloqueio terá um enorme impacto económico, nomeadamente na Europa.
Alguns países europeus dependem do petróleo e gás natural que importam dos países do Golfo e, por isso, um bloqueio do estreito poderia levar a uma escassez de energia.
Além disso, se o Irão aprovar o encerramento, os preços do petróleo vão disparar a nível mundial, o que aumentaria a inflação e os custos da energia, com efeito na economia mundial (indústria transformadora, transportes, agricultura).
O estreito é também uma rota fundamental para o transporte marítimo mundial e um bloqueio poderia, além de fazer subir os preços, atrasar as importações, de matérias-primas, produtos eletrónicos e bens de consumo, afetando as cadeias de abastecimento.
O Irão já ameaçou fechar Ormuz diversas vezes, mas nunca chegou a fazê-lo, porque o país também depende do estreito para exportar a maior parte do seu petróleo bruto, tal como outros membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque.
"Independentemente das variações (...) este quadro já esta esperado", disse o economista, citando três cenários avançados pela Bloomberg no início do conflito. "O pior [cenário] está a concretizar-se ou pelo menos está a ter início", concluiu.
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