As primeiras tentativas de protestos foram da coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI-Terra Ranka), liderada pelo Partido Áfricano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), destituída do poder pelo decreto presidencial que dissolveu o parlamento em dezembro de 2023, meio ano depois das eleições legislativas e antes de decorrido o prazo constitucional para o efeito.
As tentativas de protestos sucederam-se, por parte de formações políticas e da sociedade civil, mesmo depois de um despacho do Governo, logo em janeiro, que proibiu os ajuntamentos na via pública, sempre reprimidas pela polícia.
Com pouca mobilização e com dezenas de detidos e feridos contabilizados, os contestatários acusam o regime de violar o direito fundamental à manifestação, vedado apenas aos que protestam, segundo dizem, enquanto os leais ao Presidente continuam a promover todo o tipo de comícios e reuniões políticas públicas.
Quase um ano depois da dissolução do parlamento, partidos e novas coligações preparavam-se para novas eleições, em 24 de novembro, quando o chefe de Estado considerou não existirem condições e adiou o ato eleitoral, com base num parecer do Governo de iniciativa presidencial.
Um dos entraves apontados foi o Supremo Tribunal de Justiça ainda não se ter pronunciado sobre as candidaturas apresentadas.
A decisão judicial surgiu depois do decreto presidencial que cancelou as eleições e excluiu as candidaturas da coligação PAI-Terra Ranka e da Aliança Patriótica Inclusiva (API).
O líder da PAI-Terra Ranka, Domingos Simões Pereira, estranha a decisão e acusa o regime de estar a fazer de tudo para o impedir de ir a eleições.
Simões Pereira, que foi adversário de Embaló em 2019, defende que já deviam ter sido convocadas novas eleições presidenciais e que o mandato presidencial termina em 27 de fevereiro de 2025, data a partir da qual entende que a Guiné-Bissau passa a ser "um não Estado", onde a única instituição que funciona é o Presidente.
Com a oposição e organizações da sociedade civil a dizerem que todas as instituições estão "capturadas" na Guiné-Bissau, o ano de 2024 foi também de convulsões dentro dos partidos.
No PAIGC pediu-se clarificação ao líder que foi confirmado com uma moção de confiança. O Partido da Renovação Social (PRS) e o Movimento para Alternância Democrática (Madem-G15) dividiram-se em duas direções, com os líderes contrários a Sissoco Embaló e novas direções fiéis ao Presidente.
Umaro Sissoco Embaló surpreendeu ao anunciar publicamente que não ia recandidatar-se para logo a seguir reconsiderar e garantir que se depender do voto do povo fica no lugar "até dois mil e trinta e tal".
O chefe de Estado criou este ano o que denominou de "batalhão anti-golpe (de Estado)" e tem reiterado nos discursos que a Guiné-Bissau precisa de estabilidade e que não admitirá "desordem", afirmando mesmo que o país "é diferente" de Moçambique, numa alusão à tensão pós-eleitoral naquele país.
Ao longo do ano, a oposição queixou-se e criticou o silêncio da comunidade internacional relativamente à situação política da Guiné-Bissau.
O ano em que se celebrou o centenário do líder histórico Amilcar Cabral, sem comemorações oficiais na Guiné-Bissau, registou momentos de tensão com Timor-Leste, depois de vários dirigentes timorenses terem duvidado da capacidade guineense de assumir a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa em 2025.
O Presidente guineense lamentou as críticas dos "irmãos timorenses" e enfatizou que a Guiné-Bissau não pediu para presidir à CPLP e que já esteve na presidência de outras organizações como a CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental.
O ano que termina fica marcado pela maior apreensão de droga na Guiné-Bissau, com um avião a aterrar no aeroporto internacional da capital guineense carregado com 2,6 toneladas de droga, em setembro.
Os cincos elementos da tripulação foram detidos e estão a ser julgados em Bissau.
Nos tribunais guineenses está, também a ser julgado o "caso dos seis biliões" que levou à dissolução do parlamento e que tem no banco dos réus o antigo ministro das Finanças Suleimane Seidi e o antigo secretário de Estado do Tesouro António Monteiro.
À barra do tribunal chegou também o caso da alegada tentativa de golpe de Estado de 01 de fevereiro de 2023, com a decisão judicial de libertar 18 dos cerca de 50 detidos, que não tinham acusação formada e que chegou tarde para um dos visados, um militar que morreu enquanto estava preso.
O ano fica marcado por mais uma sucessão de greves na educação e saúde na Guiné-Bissau e pelo aumento do custo de vida, com a população a pagar quase o dobro pelo arroz, que é a base da alimentação dos guineenses.
Num ano de campanha forte do caju, as populações das ilhas Bijagós ganharam um novo meio de transporte com o cacilheiro oferecido por Portugal à Guiné-Bissau, que, em 2025, deverá ter uma nova aerogare no aeroporto internacional Osvaldo Vieira, que se encontra em obras.
A capital guineense deixou de depender, em 2024, do barco para ter eletricidade, mas continua a pagar uma fatura mensal equivalente a 1,4 milhões de euros à empresa turca por obrigações contratuais que se prolongam até 2031.
Dez anos depois de falhada a primeira tentativa, a Guiné-Bissau oficializou, em 2024, a candidatura das Ilhas Bijagós a Património Mundial da Humanidade.
No desporto, pela primeira vez, a seleção nacional de futebol da Guiné-Bissau não se qualificou para a CAN (Taça das Nações Africanas), depois de quatro participações sucessivas, desde 2016.
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