"Três casas na cidade de Brasov (centro) foram revistadas em ligação com crimes de corrupção eleitoral, branqueamento de capitais e falsificação informática", segundo um comunicado do Ministério Público, que afirma suspeitar de violação da lei relativa à proibição de organizações e símbolos de caráter fascista, racista e xenófobo.
A operação visa, em particular, uma pessoa "possivelmente envolvida no financiamento ilegal da campanha eleitoral de um candidato presidencial", afirmou o Ministério Público, sem referir o nome do candidato ultranacionalista Calin Georgescu.
A investigação foi aberta esta semana após a desclassificação de documentos dos serviços secretos que sustentam as acusações do papel do TikTok na campanha, com a Rússia na linha de fogo.
Citando "múltiplas irregularidades e violações da lei eleitoral que distorceram" a votação e "a igualdade de oportunidades para os candidatos", o Tribunal Constitucional anulou na sexta-feira as eleições, para "garantir a validade e legalidade" da votação.
O Tribunal Constitucional decidiu que "todo o processo eleitoral" deve ser repetido, deixando o país da Europa de Leste em estado de choque com esta decisão sem precedentes.
Na União Europeia (UE), a última grande votação anulada pelos tribunais foi em 2016: a segunda volta das eleições presidenciais austríacas teve de ser repetida devido a irregularidades na contagem dos votos, sem que tenha sido identificada qualquer fraude.
Os serviços secretos romenos traçaram paralelos com os anteriores esforços de interferência eleitoral russa na Europa e identificaram "25.000 contas TikTok" diretamente associadas à campanha de Georgescu, que se tornaram "extremamente ativas duas semanas antes do dia das eleições".
Também mencionaram uma conta pertencente a Bogdan Peshir, que fez pagamentos de 381.000 dólares (361.000 euros) entre 24 de outubro e 24 de novembro a utilizadores da Internet que ajudaram a promover o candidato.
A origem da fortuna do homem, que trabalhou em empresas ligadas às criptomoedas, não é clara. Segundo as autoridades romenas, o "estilo de vida não corresponde" às suas atividades atuais. Anónimo até há pouco tempo, comparou o seu apoio a Calin Georgescu com o apoio de Elon Musk a Donald Trump.
Na rede social X (antigo Twitter), Donald Trump Jr, filho do próximo Presidente dos Estados Unidos, condenou a anulação e considerou-a como "mais uma tentativa de manipular as eleições".
O governo norte-americano reafirmou a "confiança nas instituições" da Roménia e apelou a "um processo democrático pacífico", pedindo às partes que "mantenham a ordem constitucional".
A equipa de campanha de Georgescu recusou-se a comentar as buscas no sábado.
Vindo do nada, Georgescu venceu surpreendentemente a primeira volta, em 24 de novembro, afastando os favoritos dos partidos do governo.
A sua mensagem, "A Roménia Primeiro", tornou-se viral, apelando a uma parte da população cansada dos partidos tradicionais, considerados corruptos, e que enfrenta dificuldades económicas num dos países mais pobres da Europa.
Crítico da UE e da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), o ex- alto funcionário público, de 62 anos, voltou na sexta-feira a declarar nos meios de comunicação social que era a favor da suspensão total da ajuda militar à vizinha Ucrânia.
Georgeuscu denunciou também uma forma de "golpe de Estado" depois de ter sido anunciada a anulação das eleições.
No próximo domingo, Georgescu deveria enfrentar na segunda volta das presidenciais a centrista pró-europeia Elena Lasconi, que estava a subir nas sondagens e a ganhar apoio.
Lasconi afirmou que "a votação deveria ter tido lugar" e condenou uma "decisão ilegal" de um "Estado romeno que despreza a democracia".
O Presidente romeno, Klaus Iohannis, que se regozijou com a decisão face às acusações "muito graves", manter-se-á em funções até à eleição do seu sucessor.
A data das novas eleições será fixada pelo futuro governo que sair das recentes eleições legislativas, que produziram um parlamento fragmentado, com um terço dos votos a favor dos partidos de extrema-direita.
Quatro partidos pró-europeus com maioria no parlamento assinaram esta semana um acordo para uma coligação de "unidade nacional", mas este ainda não foi posto em prática.
Entretanto, o social-democrata Marcel Ciolacu continua a ser o primeiro-ministro responsável pelos assuntos correntes.
Leia Também: EUA pedem "processo democrático pacífico" na Roménia