A militante veterana do Exército Republicano Irlandês (IRA, na sigla em inglês) Marian Price avançou com um processo judicial contra a Disney+, por ter sido retratada a matar Jean McConville na série ‘Não Digas Nada’, que aborda o conflito de décadas na Irlanda do Norte conhecido como ‘The Troubles’.
“A publicação em causa descreve a nossa cliente, Marian Price, como a pessoa responsável pelo assassínio de Jean McConville. Tendo em conta o contexto, é difícil imaginar uma alegação mais flagrante do que a que foi feita contra a nossa cliente”, disse o advogado da militante, Peter Corrigan, num comunicado citado pela Press Association (PA).
O responsável, que complementou que a acusação “não se baseia num único pingo de prova”, argumentou ainda ser “difícil imaginar uma alegação mais flagrante do que a que foi feita contra a nossa cliente”.
“Tais alegações, publicadas à escala internacional, não só são injustificadas, como são odiosas, na medida em que procuram causar um prejuízo incomensurável à nossa cliente em troca de um maior sucesso. A nossa cliente foi agora forçada a iniciar um processo judicial para responsabilizar a Disney pelas suas ações”, rematou.
Desde o mês passado que a série baseada no livro de Patrick Radden Keefe ‘Say Nothing’ [‘Não Digas Nada’, em português] está a ser transmitida nas plataformas de streaming Apple TV e Disney+.
‘Não Digas Nada’ debruça-se sobre o assassinato de Jean McConville, mãe de 10 filhos que foi sequestrada por membros Exército Republicano Irlandês, em 1972.
McConville faz parte dos ‘desaparecidos’, um grupo de 17 pessoas que foram raptadas, mortas e enterradas secretamente por paramilitares republicanos neste período.
Os seus restos mortais foram encontrados em 2003 na praia de Shelling Hill, no condado de Louth, na República da Irlanda, pela Comissão Independente para a Localização dos Restos Mortais das Vítimas. Até ao momento, ninguém foi responsabilizado pela sua morte, que deixou 10 crianças órfãs.
Um dos filhos de McConville, Michael, também se posicionou contra a série, tendo considerado que o homicídio da mãe estava a ser usado como “entretenimento”.
Marian e a irmã, Dolours, ficaram conhecidas depois de terem sido condenadas por uma onda de atentados bombistas em Londres, em 1973, durante a qual atacaram o Tribunal Central Criminal e feriram mais de 200 pessoas. Ambas cumpriram pena de prisão.
Leia Também: Irlanda encara semanas de negociação até governo de coligação ser formado