A Coreia do Sul 'escolheu' fechar o ano num clima de tensão, com a terça-feira a ser marcada por protestos depois de o presidente, Yoon Suk Yeol, ter decretado a lei marcial no país - uma medida que foi mais tarde revogada com o peso do parlamento, que agora 'promete' não deixar passar esta decisão em branco.
Após as manifestações e o clima de tensão no país, os parlamentares decidiram agora apresentar uma proposta de 'impeachment' que, de acordo com as publicações internacionais, será votada na sexta-feira ou no sábado.
Apesar de a lei marcial ter durado apenas seis horas, tudo indica que a decisão anunciada vai ter consequências para o líder sul coreano, que, a ser alvo de um processo de 'impeachment', não será o primeiro.
Que outros presidentes já sofreram impeachment na Coreia do Sul? E porquê?
A BBC faz esta quarta-feira uma análise à situação, lembrando que a última vez que um presidente sul-coreano foi alvo de um processo de 'impeachment' - que é uma ferramenta jurídica e política utilizada para destituir governantes que agiram fora da lei - foi em 2016, por abuso de poder.
Segundo a publicação britânica, o presidente de então, Park Geun-hye, foi destituído após ser acusado de ajudar um amigo a cometer o crime de extorsão.
Já em 2004, o presidente da altura, Roh Moo-hyun, foi alvo de um processo deste género, tendo sido destituído. Dois meses depois, o tribunal Constitucional acabou por restituir-lhe o cargo. Em causa estavam irregularidades na administração e processo eleitoral, mas o tribunal decidiu que, apesar de terem havido infrações, não foram graves o suficiente para justificar o 'impeachment'.
O que é preciso para a destituição?
A eleição do presidente sul-coreano, em 2022, foi por 'um triz', com uma diferença de cerca de 1% do rival. Apesar de sair vitorioso, esta ação poderá mesmo vir a custar-lhe o cargo, dado que, para ser destituído, a moção necessita de dois terços dos votos a favor e pelo menos seis juízes do Tribunal Constitucional - o que deverá ter, dadas as críticas de que foi alvo assim que declarou a lei marcial.
A oposição, que conta com 192 deputados em 300, só precisará de um pequeno número de deserções do campo presidencial para conseguir destituir Yoon.
Especialistas ouvidos pela BBC dizem mesmo que esta situação pode danificar a reputação da Coreia do Sul como uma democracia mais do que quando aconteceu o ataque ao Capitólio, nos Estados Unidos.
"A declaração de lei marcial de Yoon parece ter sido um exagero jurídico e um erro de cálculo político, pondo desnecessariamente em risco a economia e a segurança da Coreia do Sul", afirmou Leif-Eric Easley, da Universidade de Ewha, em Seul.
"Parecia um político cercado, a fazer uma jogada desesperada contra os escândalos crescentes, a obstrução institucional e os apelos à destituição, que agora se deverão intensificar", acrescentou o mesmo especialista.
A última vez que a lei marcial foi imposta no país, em 1979.
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