Um grupo de especialistas reunido pelo Armed Conflict Location and Event Data Project (ACLED) - uma organização não-governamental especializada na recolha e análise de dados de conflitos, com sede em Washington -- demonstrou hoje -- durante um 'webinar' sobre violência política, em que a agência Lusa participou - que a atividade de grupos extremistas nos Estados Unidos tem vindo a diminuir desde 2022.
A tendência é explicada pelo facto de vários destes movimentos -- como os Proud Boys ou os Patriot Front -- terem visto os seus principais dirigentes serem investigados e em alguns casos serem detidos por causa do seu envolvimento na invasão do Capitólio, em 06 de janeiro de 2021.
Contudo, estes movimentos continuam organizados e os especialistas alertam para a possibilidade de reativarem as suas atividades violentas, na eventualidade de uma campanha para as eleições presidenciais que seja mais agressiva e radicalizada, já que as suas estruturas permanecem ativas e intactas.
Kieran Doyle, diretor regional da América do Norte do ACLED, mostrou um gráfico que revelava que a atividade de movimentos de extrema-direita nos EUA tem vindo a diminuir significativamente desde 2022, depois de ter aumentado entre 2020 (ano das últimas eleições presidenciais, que deram a vitória ao Presidente democrata Joe Biden, contra o candidato republicano Donald Trump) e 2022.
Para estes dados, contribuiu bastante a quase estagnação de grupos extremistas relevantes, como os Proud Boys e os Patriot Front, mas desde 2022 registaram-se também menos manifestações de apoio ao ex-Presidente republicano, bem como as ações de rua contra o aborto e contra os movimentos LGBTQI+, que diminuíram cerca de 70%, de acordo com Doyle.
Richard Barta -- diretor dos serviços de informações globais da cadeia hoteleira Marriot e outro dos participantes no painel -- apontou como fator explicativo desta diminuição de atividade violenta de grupos extremistas o efeito de fadiga pós-pandemia de covid-19, bem como razões sociológicas ligadas a processos de descentralização e descoordenação de alguns destes movimentos.
Também Shannon Hiller -- diretor executiva de um programa de combate à violência social da Universidade de Princeton, Bridging Divides Initiative -- referiu que tem havido um esforço por organizações como a que ela dirige (e outras financiadas por ONGs) para sensibilizar movimentos de cidadãos a prevenirem ações de violência em ambiente político.
Esta especialista referiu que estes esforços passam por diversos tipos de ações de sensibilização, como ajudar a compreender, criar mecanismos de colaboração e criar modelos de resposta a iniciativas políticas extremadas e violentas.
Hiller e Doyle concordaram que, apesar da tendência de diminuição da atividade de grupos de extrema-direita, os incidentes violentos podem regressar às ruas das cidades norte-americanas a qualquer momento, tendo em conta que os braços armados desses movimentos continuam ativos (apesar de adormecidos) e bem estruturados.
Leia Também: Pegar fogo a bandeira dos EUA em protestos? Trump quer um ano de prisão