"A China opõe-se firmemente à difamação e ao enfraquecimento da cooperação" no âmbito da Iniciativa Faixa e Rota e "opõe-se à confrontação e à divisão" nas relações internacionais, afirmou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Wang Wenbin, em conferência imprensa regular.
O jornal Corriere della Sera noticiou na quarta-feira que o executivo italiano entregou uma carta com a notificação formal a Pequim esta semana.
A decisão surge três meses depois de a primeira-ministra Giorgia Meloni - que, no passado, tinha considerado a participação de Roma na iniciativa chinesa um "erro" - ter confirmado publicamente que o seu governo estava a ponderar não renovar o acordo assinado com Pequim.
O acordo seria renovado automaticamente por mais cinco anos no início de 2024.
Nos anos que se seguiram à adesão de Roma, o défice comercial de Itália com a China aumentou de 20 mil milhões de euros para 48 mil milhões de euros e os investimentos nos portos italianos que Roma esperava nunca se concretizaram.
A decisão italiana de aderir em 2019 ao ambicioso projeto de comércio e investimento suscitou também apreensão entre os aliados ocidentais.
Itália foi a única economia do G7 que aderiu à iniciativa chinesa, numa altura de crescente fricção geopolítica entre Pequim e o Ocidente.
Designado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, como o "projeto do século", em 2013, a iniciativa foi inicialmente apresentada no Cazaquistão como um novo corredor económico para a Eurásia, inspirado na antiga Rota da Seda. A construção de portos, linhas ferroviárias ou autoestradas voltaria a ligar o leste da Ásia e a Europa, através da Ásia Central.
Mas a iniciativa tornou-se, entretanto, no principal programa da política externa de Xi. Na última década, mais de 150 países em todo o mundo aderiram à Faixa e Rota.
Segundo um estudo realizado pela AidData, unidade de pesquisa sobre financiamento internacional, com sede nos Estados Unidos, nos primeiros cinco anos desde o lançamento (2013-2017), a China financiou, em média, 83,5 mil milhões de dólares por ano em projetos de desenvolvimento no estrangeiro, cimentando a liderança como principal financiadora internacional. O aumento líquido, de 31,3 mil milhões de dólares por ano, em relação aos cinco anos anteriores (2008-2012), é equivalente ao financiamento anual médio dos Estados Unidos, que ocupam a segunda posição, no período 2013-2017.
A aproximação entre Pequim e os países envolvidos abarca um incremento das consultas políticas e cooperação no âmbito do ciberespaço, meios académicos, imprensa, regras de comércio ou acordos de circulação monetária, visando elevar o papel da moeda chinesa, o yuan, nas trocas comerciais. A Faixa e Rota envolveu também a fundação de instituições que rivalizam com agências estabelecidas como o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional.
A participação de Itália tornou-se ainda mais insustentável numa altura em que o G7 defende uma política de redução das dependências face à China.
O ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Antonio Tajani, deslocou-se a Pequim este ano para conversações, enquanto Meloni se encontrou com o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, à margem da cimeira do G20 em Nova Deli, em setembro.
Numa conferência de imprensa após essa reunião, Meloni sublinhou o desejo da Itália de manter laços fortes com a China, ao mesmo tempo que assinalou a possibilidade de Roma sair da Faixa e Rota.
Leia Também: Itália sai oficialmente da Nova Rota da Seda