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Sérvia pode tornar-se uma nova Turquia na adesão à UE, diz analista

O investigador sérvio Milos Pavkovic afirma que os cidadãos estão desiludidas com o arrastar do processo de adesão da Sérvia à União Europeia e avisa que o país pode tornar-se uma nova Turquia na relação com o bloco europeu.

Sérvia pode tornar-se uma nova Turquia na adesão à UE, diz analista
Notícias ao Minuto

08:40 - 06/11/23 por Lusa

Mundo Sérvia

A Sérvia candidatou-se oficialmente à adesão à UE em 2009. Três anos depois, recebeu luz verde para o estatuto de candidata e as negociações arrancaram em 2014. Desde então, foram abertos 22 dos 35 capítulos, tendo sido encerrados dois.

O país "está neste caminho há muito tempo" e "isso é problemático porque cria desilusão nas pessoas", comentou, em entrevista à Lusa, o investigador do Centro de Políticas Europeia (CEP, na sigla em inglês).

"As pessoas estão dececionadas, já não esperam que aconteça alguma coisa. A Sérvia abriu o último capítulo há dois anos. Não estamos a abrir novos capítulos, nem estamos a encerrar capítulos", referiu.

Para o analista, isto é "uma indicação clara de estagnação e não só para a Sérvia, mas também para toda a região" dos Balcãs -- Montenegro, Macedónia do Norte, Albânia e Bósnia-Herzegovina.

O Kosovo foi aceite como potencial candidato em dezembro do ano passado, mas enfrenta o não reconhecimento de cinco Estados-membros dos 27 (Espanha, Grécia, Chipre, Roménia e Eslováquia). Geórgia, Ucrânia e Moldova são igualmente candidatos à adesão.

"O país está a tornar-se um cenário como a Turquia, que está a negociar há décadas e nada acontece e acho que toda a gente sabe, na Turquia e na UE, que eles não vão aderir", disse, acrescentando: "A Sérvia está numa posição em que algo precisa de acontecer".

Em 2003, 90% dos sérvios apoiavam a adesão da Sérvia à UE, mas essa percentagem situa-se atualmente nos 40%.

Um dos obstáculos à integração de Belgrado -- assumido na semana passada pelo Presidente sérvio, Aleksandar Vucic -- é o não alinhamento com a política externa da UE, nomeadamente a recusa em impor sanções contra a Rússia, justificada pela dependência da energia russa e pelos laços históricos com Moscovo, mas também por ter sido um país sob sanções, que consideram prejudicar as pessoas.

O outro obstáculo é a relação com o Kosovo -- que declarou independência em 2008 -, mergulhada num impasse e que vive atualmente um novo momento de tensão, após a morte de um polícia kosovar num ataque armado, em 24 de setembro.

A União Europeia pede uma desescalada do conflito e uma normalização das relações entre as duas partes, uma condição para que façam o seu "caminho europeu", como referiu esta semana em Belgrado a presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen.

"O capítulo 35 é o chamado capítulo de bloqueio. Se não houver progresso no capítulo 35, não haverá progresso em nenhum outro", comentou o investigador do CEP.

Milos Pavkovic alertou ainda que o país tem registado "um claro retrocesso democrático", com "vários índices de democracia" em queda, nomeadamente "em termos de eleições justas e livres, liberdade de imprensa ou direitos democráticos".

Por outro lado, o atraso na integração faz agravar o fosso socioeconómico entre a Sérvia e os 27, avisou.

"Os países dos Balcãs Ocidentais precisam de apoio financeiro para colmatar o fosso socioeconómico com a média da UE. A Sérvia ou os países dos Balcãs Ocidentais recebem seis vezes menos financiamento em comparação com a Bulgária e Croácia. E esta lacuna socioeconómica só está a aumentar", alertou.

Em troca do maior apoio financeiro, "claro, a Sérvia tem de concluir as suas reformas".

Esta semana, num périplo pelos Balcãs, Von der Leyen anunciou um plano de investimento de seis mil milhões de euros para a região, advertindo que está dependente das reformas exigidas.

A potencial adesão de cinco ou seis novos países, incluindo a Ucrânia, com 40 milhões de habitantes, alteraria o equilíbrio da UE para o leste da Europa, o que obriga os 27 a refletir sobre o processo de decisão, nomeadamente a questão da unanimidade.

"É por isso que a UE tem receio de integrar novos membros", considerou o investigador.

O CEP propõe um modelo de adesão progressivo, com quatro estágios, em que a evolução dependeria da velocidade da implementação das reformas: inicialmente, os países receberiam mais apoio financeiro e teriam um estatuto de observadores, para se irem familiarizando com as instituições europeias. Num terceiro estágio, integrariam os organismos europeus, mas com direitos de veto interditos durante um período de tempo negociado. Finalmente, seriam membros de pleno direito.

"A ideia é não parar o processo de integração, enquanto dá tempo à UE para fazer as suas reformas internas", explicou.

Leia Também: Partidos pró-europeus lamentam atrasos na adesão da Sérvia à UE

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