Casos de violência sexual triplicaram na RCA entre 2018 e 2022
Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertaram hoje que o número de vítimas de violência sexual na República Centro-Africana (RCA) triplicou entre 2018 e 2022, e que este aumento não se deve exclusivamente ao conflito armado no país.
© Reuters
Mundo Médicos sem Fronteiras
"A violência sexual na RCA é uma emergência de saúde pública tabu que não pode ser abordada apenas como um problema relacionado com o conflito armado", referiu o diretor nacional dos MSF, Khaled Fekih, num comunicado.
Segundo o relatório dos MSF, os profissionais de saúde na RCA trataram mais de 19.500 sobreviventes de violência sexual entre 2018 e 2022, 95% dos quais eram mulheres.
Os MSF também anunciaram, através do relatório, que uma minoria dos agressores estava armada (cerca de 20%) e que a grande maioria era conhecida pelas vítimas (cerca de 70%).
"Infelizmente, poucos agressores são condenados, devido à impunidade flagrante, enquanto os sobreviventes enfrentam uma estigmatização severa, e outros obstáculos significativos, para continuar uma vida normal nas suas comunidades", referiu a organização não-governamental (ONG).
"Sabemos que o número de pacientes atendidos ainda é apenas a ponta do icebergue. São necessárias ações mais concretas por parte do Governo da RCA e de outras organizações humanitárias nacionais e internacionais para alterar esta situação", sublinhou Fekih.
Segundo explicou, os sobreviventes também enfrentam muitas barreiras na obtenção de tratamento e cuidados médicos, bem como uma carência de apoio psicossocial, socioeconómico e jurídico.
"Em alguns lugares, os MSF receberam pacientes que viajaram 130 quilómetros, o que pode significar muitas horas ou mesmo dias de viagem devido ao mau estado das redes rodoviárias na RCA", disse a conselheira de saúde da ONG, Liliana Palacios.
Existem vítimas que só procuram cuidados médicos alguns anos após terem sido sexualmente agredidas, declarou Liliana Palacios.
A RCA tem vivido em violência contínua desde 2012, quando uma coligação de grupos rebeldes do nordeste de maioria muçulmana - os Séléka - tomou a capital, Bangui, e derrubou o Presidente François Bozizé, dando início a uma guerra civil sangrenta.
Embora o atual Presidente, Faustin Archange Touadéra, tenha declarado um cessar-fogo unilateral em outubro de 2021 com o objetivo de facilitar o diálogo nacional, grande parte do país - rico em diamantes, urânio e ouro - continua a ser controlado por milícias rebeldes.
De acordo com as Nações Unidas, a violência deslocou mais de meio milhão de pessoas e 3,4 milhões - 56% da população centro-africana - necessitam de assistência humanitária.
Leia Também: Gaza. Médicos Sem Fronteiras alerta que número de camiões é insuficiente
Descarregue a nossa App gratuita.
Oitavo ano consecutivo Escolha do Consumidor para Imprensa Online e eleito o produto do ano 2024.
* Estudo da e Netsonda, nov. e dez. 2023 produtodoano- pt.com