Bandeiras da UE em evento cultural causa revolta no Reino Unido
A presença da bandeira azul da União Europeia no final do maior evento cultural do país - e um dos maiores do mundo - não caiu bem aos apoiantes do Brexit. Um deputado até já exigiu que a BBC, a organizadora, se explicasse.
© Adrian Dennis/AFP via Getty Images
Mundo Brexit
A última noite dos BBC Proms é suposta ser o culminar do maior festival de música clássica do mundo, um dos maiores eventos musicais no geral e, para os britânicos, uma celebração da identidade do Reino Unido. Mas, para os apoiantes do Brexit, os Proms terminaram da forma mais desafinada possível.
No passado sábado, um grupo de ativistas pró-União Europeia (UE) foi para a entrada do Royal Albert Hall, a icónica sala de concertos de Londres, distribuir bandeiras da UE, contrastando com a grande demonstração de patriotismo azul e vermelha que caracteriza o evento. Depois do concerto, como é habitual, a Orquestra Sinfónica da BBC interpretou o hino imperial britânico 'Rule, Britannia!', difundido por toda a BBC e para o mundo inteiro, e vários vídeos divulgados nas redes sociais captaram as bandeiras agitadas na sala, lado a lado com as bandeiras do Reino Unido.
O final do espetáculo, com o azul da UE bem presente no público, deixou muitos apoiantes do Brexit irritados e revoltados. Harvey Proctor, um antigo deputado conservador, considerou que o 'incidente' era "vergonhoso" e pediu que a BBC fosse até alvo de um inquérito, por mostrar as bandeiras.
"A BBC tem de investigar porque é que tantas bandeiras da UE foram agitadas na Última Noite dos Proms. A vergonhosa e mal gerida BBC estragou uma tradição britânica, um gesto político que faria o sir Henry Wood virar na cova. É 'Rule Britannia', não 'Rule UE'!", afirmou Proctor na rede social Twitter (agora X), fazendo um trocadilho que exalta o domínio ultramarino do Reino Unido.
The Last Night of the Proms appears to be a seething mass of Remainers. Can’t wait for Rule Britannia 🇬🇧 🇬🇧 pic.twitter.com/nFgnBkOgDO
— Isabel Oakeshott (@IsabelOakeshott) September 9, 2023
Já Isabel Oakeshott, uma comentadora de extrema-direita, criticou os Proms por conterem uma "fervorosa massa de 'remainers'", aludindo para a alcunha dada aos que votaram contra o Brexit.
Nile Gardiner, outro conservador e antigo assessor de Margaret Thatcher, a primeira-ministra neoliberal dos anos 80, considerou que era "irónico" ver bandeiras da UE na sala, porque a música 'Rule, Britannia!' "representa liberdade, soberania e autodeterminação, tudo ausentes na UE" - isto apesar do tema ser criticado por ativistas antirracistas como uma proclamação do legado colonial do país.
Os ativistas, do movimento 'Thank EU For The Music', discordaram naturalmente dos comentadores da direita britânica, anunciando numa publicação no Facebook que a demonstração tinha sido um "sucesso" e "um sinal poderoso que o Reino Unido quer voltar" à UE.
Os BBC Proms, ou apenas Proms, duram oito semanas e este ano foram retomados em pleno, pela primeira vez desde a pandemia. Os concertos decorrem predominantemente no Royal Albert Hall, mas há vários outros eventos espalhados por todo o Reino Unido e, embora a música clássica esteja no centro do festival, este tem trazido cada vez mais concertos de música moderna, desde hip-hop a música eletrónica, com músicos de todo o mundo.
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