Durante o primeiro dia da IV Cimeira presidencial da Organização do Tratado de Cooperação Amazónica (OTCA), na cidade amazónica brasileira de Belém, evento organizado pelo Presidente do Brasil, Gustavo Petro afirmou que "se a floresta produz petróleo e isso está a matar a Amazónia, passa a haver um efeito duplo: a floresta já não é mais esponja de CO2, ela também emite".
Petro voltou a levantar a bandeira contra o uso de combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás, com críticas veladas aos governos de esquerda da região, como o brasileiro, que defendem este tipo de projetos, mesmo na Amazónia.
"Sem a floresta amazónica, vamos para os Estados Unidos em êxodo, porque o que é que as pessoas vão fazer sem água? Vão-se embora, é a coisa lógica a fazer", disse.
"É possível manter uma linha política deste nível, apostar na morte e destruir a vida, ou devemos propor outra coisa, que é aquilo a que chamo uma sociedade descarbonizada?", questionou.
Apesar da ambição brasileira para esta cimeira, a diminuição da exploração de petróleo na região tem sido tema tabu, que, desde diplomatas, a Lula da Silva, até à própria ministra do Ambiente, Marina Silva, têm procurado esquivar-se na questão.
A Colômbia, além de insistir no desmatamento zero, anunciou o fim de novas licenças para explorar petróleo no início do ano e esperava que o assunto fosse discutido nesta cimeira de líderes que junta os oito países que têm a floresta Amazónica no seu território.
No cerne do desconforto brasileiro poderá estar o estudo para exploração de petróleo perto da foz rio Amazonas, no estado do Amapá, norte do país, que tem como senador eleito Randolfe Rodrigues, um político próximo de Lula da Silva que até ao início do ano estava filiado ao partido Rede Sustentabilidade, que tem como bandeira as ações em prol do ambiente, da emergência climática e da proteção de biomas.
"É uma decisão que o Estado brasileiro precisa tomar, mas o que a gente não pode é deixar de pesquisar", disse Lula da Silva, na sexta-feira.
Petro, além do combate à exploração de petróleo quer ainda um compromisso conjunto contra o crime organizado na região.
Petro defendeu a criação de um tribunal ambiental que servirá para "julgar os crimes" contra a maior floresta tropical do planeta, "reconhecendo os direitos" do bioma, que nos últimos anos tem assistido à expansão de redes de tráfico de droga no seu território, bem como à desflorestação, mineração ilegal e violência contra os povos indígenas, entre outros crimes.
Também pediu a assinatura de um "tratado militar" na região amazónica com a criação de um bloco semelhante à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), para combater os "crimes" que ocorrem no território.
O líder colombiano defendeu ainda a promoção de um "centro comum de investigação científica", no qual cientistas apenas dos oito países da OTCA investigariam a floresta tropical.
Na mesma ocasião, Gustavo Manrique, ministro dos Negócios Estrangeiros do Equador, país com uma prolífica indústria petrolífera na floresta tropical, apelou aos países presentes na Cimeira da Amazónia para que se "reinventem" e abandonem o modelo de "exploração desenfreada" para "salvar a Amazónia".
O Equador chegou à Cimeira de Belém na véspera de realizar uma consulta nacional histórica, em 20 de agosto, para pôr termo à extração de petróleo num campo petrolífero da Amazónia.
Esta é a quarta reunião de líderes da OTCA, criada em 1995 e integrada pelos oito países amazónicos (Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), e a primeira desde 2009.
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