Com retratos a preto e branco dos mortos e imitações de caixões, um grupo de familiares dos mortos em 9 de janeiro, durante os protestos contra o Governo na cidade de Juliaca (sul) reuniram-se na emblemática Dois de maio, centro da capital, quando o país andino celebrou na sexta-feira o seu Dia da Independência.
Os protestos de Juliaca foram os mais sangrentos no decurso dos amplos protestos populares que abalaram sobretudo o sul e centro do país e as regiões de população indígena, com um balanço de 18 manifestantes e um polícia mortos durante os confrontos.
Hoje, este grupo de familiares reclamou por justiça e pediu o fim da impunidade para os responsáveis pelas mortes.
Pouco depois, o protesto foi reforçado com a chegada de mais manifestantes convocados por sindicatos e organizações de luta de diversas regiões, que exigiram a demissão da Baluarte, ecoando "assassina".
Quando o desfile se dirigiu para a Praça San Martin e tentou romper um cordão policial iniciaram-se os confrontos, com as forças de intervenção a recorrerem a gás lacrimogéneo e os manifestantes a apedrejarem os agentes.
Em paralelo, decorria noutra zona da cidade de Lima um desfile militar que juntou milhares de pessoas, incluindo a Presidente Boluarte.
Diversas organizações e coletivos convocaram protestos antigovernamentais desde 19 e julho para exigir a renúncia da chefe de Estado, a dissolução do Congresso e eleições antecipadas para uma nova Assembleia constituinte, e a libertação do ex-Presidente Pedro Castillo.
Na sexta-feira, durante o seu discurso no Congresso pelo dia da Independência, Dina Boluarte pediu perdão em nome do Estado aos familiares das vítimas dos protestos antigovernamentais iniciados em dezembro de 2022.
"Declaro novamente e com muita dor que o balanço das vítimas é um lamentável resultado que ninguém quis. Com profunda e dolorosa consternação peço perdão aos familiares de todos os mortos, civis, polícias e militares", disse a Presidente.
No seu discurso, Boluarte assegurou que "não houve vencedores nem vencidos" durante as manifestações que resultaram em 77 mortos entre dezembro e março passados.
A chefe de Estado indicou ainda que repetirá a celebração do bicentenário da independência do país "com elevada dimensão latino-americana de integração e cooperação", ao considerar que o seu antecessor Pedro Castillo (2021-2022) "minimizou" as comemorações.
Castillo, de origem indígena e vencedor das presidenciais de 2021, foi destituído e detido em 7 de dezembro de 2022 pelo Congresso, após uma designada tentativa de "autogolpe" de Estado.
Boluarte, eleita vice-presidente na candidatura de Castillo, assumiu de seguida a chefia do Estado e de imediato confrontou-se com amplos protestos e que têm assinalado o seu mandato, com um balanço de pelo menos 77 mortos, na sua maioria civis.
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