Depois de quase uma semana de negociações intensas ao nível dos embaixadores, a cimeira UE-CELAC começou na segunda-feira em Bruxelas sem consenso sobre a declaração final entre os dois blocos, divergências que hoje se mantêm, no último dia do encontro, principalmente sobre a menção à Rússia relativamente à guerra da Ucrânia.
Na segunda-feira, houve reuniões bilaterais e entre embaixadores para tentar desbloquear o impasse diplomático, mas sem sucesso até ao momento, já que o novo rascunho da declaração final, ao qual a Lusa teve hoje acesso, mostra que os países da CELAC querem apenas expressar "profunda preocupação com a guerra em curso na Ucrânia", enquanto os Estados-membros da UE pretendem "deplorar com a maior veemência a agressão da Federação Russa" e exigir a sua "retirada total e incondicional" do território ucraniano.
Aquela que é a primeira cimeira UE-CELAC em oito anos e que junta em Bruxelas quase 60 líderes de ambos os blocos regionais está, então, a ser marcada pelos diferentes pontos de vista sobre a guerra da Ucrânia, expressos nas divisões sobre esta declaração final pois, segundo uma fonte diplomática europeia, "não há grandes evoluções" nas negociações.
Uma outra fonte comunitária indicou à Lusa que, após uma nova reunião esta manhã e de outra na segunda-feira à noite dos embaixadores dos Estados-membros junto da UE, irá agora decorrer uma nova ronda de negociações bilaterais.
No decorrer do dia, "não está excluído um novo Coreper", isto é, uma nova reunião dos embaixadores dos Estados-membros junto da UE, com vista a uma declaração final desta cimeira, adiantou a fonte europeia.
Em causa estão as diferentes posições no bloco latino-americano, nomeadamente por parte do Brasil, sobre a guerra da Ucrânia.
Na segunda-feira, no arranque da cimeira, o Presidente brasileiro, Lula da Silva, criticou em Bruxelas a "corrida armamentista que dificulta ainda mais" a luta contra as alterações climáticas e considerou que a invasão da Ucrânia está a esvaziar recursos que poderiam ser destinados a programas socioeconómicos.
Outro assunto divergente é a situação na Venezuela, com o rascunho mais recente, a que a Lusa teve acesso, a exortar a um "diálogo construtivo entre as partes", sendo que a UE queria acrescentar "com vista a assegurar eleições presidenciais inclusivas e transparentes em 2024".
Inicialmente, a referência ao acordo da UE com o Mercado Comum do Sul (Mercosul) também gerou controvérsia, mas agora apenas é indicado que os líderes tomam "nota do trabalho em curso", uma solução agrada a ambos os blocos regionais após uma semana de negociações ao nível dos embaixadores.
A atual presidência espanhola da UE espera que esta cimeira seja um ponto de partida para desenvolvimentos na conclusão do acordo UE-Mercosul, que abrange 25% da economia global e 780 milhões de pessoas, quase 10% da população mundial.
Esta que é a terceira cimeira da UE com a CELAC, oito depois da reunião de 2015, foca-se no reforço da parceria entre as duas regiões para as preparar para novos desafios.
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