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Eleições em Espanha. A exceção basca e catalã no desaire da esquerda

O mapa político de Espanha saído das municipais de domingo ficou dominado pela direita mas com duas 'ilhas', a Catalunha e o País Basco, que foram a exceção a esta regra, como são a muitas outras no país.

Eleições em Espanha. A exceção basca e catalã no desaire da esquerda
Notícias ao Minuto

09:18 - 03/06/23 por Lusa

Mundo Espanha/Eleições

Na Catalunha e no País Basco houve apenas eleições municipais (e não também regionais, como noutras 12 autonomias espanholas) e as duas comunidades foram uma exceção no 'desaire' generalizado da esquerda nesta ida às urnas, que acabou com uma dissolução do parlamento espanhol e a antecipação das legislativas nacionais para 23 de julho por parte do primeiro-ministro e líder do Partido Socialista (PSOE), Pedro Sánchez.

Na Catalunha, o PSOE foi o mais votado e os independentistas da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) foi a força política que elegeu mais vereadores.

No País Basco, foram os independentistas de esquerda da coligação EH Bildu que elegeram mais vereadores, sendo também o partido que mais ganhou terreno nas municipais e o mais votado em municípios como a capital regional, a cidade de Vitoria.

O EH Bildu conseguiu mais 17 mil votos do que nas autárquicas anteriores no País Basco e elegeu 1.050 vereadores, ultrapassando em número de eleitos o Partido Nacionalista Basco (PNV, na sigla em espanhol), que tem tradicionalmente a hegemonia do mapa político da região.

O PNV, nacionalistas conservadores, foram, ainda assim, o partido mais votado no País Basco no domingo, mas o EH Bildu, além de eleger mais vereadores (1.050 contra 981), ficou a apenas 25.192 votos de distância.

O EH Bildu teve ainda bons resultados em Navarra, região vizinha do País Basco e onde também apresenta candidaturas eleitorais. Em Navarra, o EH Bildu foi o segundo partido mais votado, atrás da coligação de direita União por Navarra, tendo crescido em número de votos e de eleitos.

A catalã ERC e o basco EH Bildu foram aliados do Governo de Pedro Sánchez no parlamento espanhol na legislatura que agora termina e estes acordos dos socialistas com independentistas catalães e bascos foram um dos temas dominantes na campanha eleitoral das eleições de domingo passado, embora o aparente impacto tenha sido bem diferente no País Basco, na Catalunha e no resto de Espanha.

Fora do País Basco e da Catalunha, houve um voto de castigo a Sánchez e aos seus entendimentos com a extrema-esquerda e os independentistas, segundo a análise unânime em Espanha dos resultados das eleições.

A primeira semana de campanha acabou por ser protagonizada pelo EH Bildu, por ter incluído nas listas eleitorais 44 antigos membros do grupo terrorista ETA (que defendia a independência do País Basco) condenados pela justiça, incluindo sete que cumpriram penas por crimes de sangue.

A direita espanhola fez destas listas do EH Bildu uma das armas de campanha, insistindo em permanência em que este era um dos partidos com quem Sánchez negociava e que influenciavam a governação de Espanha.

Mas no País Basco, o EH Bildu teve os "melhores resultados da história" numas eleições, como afirmou o líder do partido, Arnaldo Otegi, ele próprio condenado pelas relações com a ETA no passado.

O EH Bildu retirou das listas os sete condenados por crimes de sangue a meio da campanha eleitoral, com a direção do partido "convencida de que esse gesto seria interpretado a seu favor, como uma aposta pela convivência", 12 anos depois de a ETA ter parado com a atividade terrorista e cinco anos após ter anunciado a dissolução do grupo, como escreveu esta semana o jornal El País numa análise dos resultados das eleições de domingo.

No País Basco, cuja política é dominada pelos partidos regionalistas e independentistas, o PSOE foi o terceiro mais votado (164.800 votos, 16,2%) e o Partido Popular (PP, direita) foi o quarto (85.000, 8,35%).

Já na Catalunha, os socialistas cresceram e voltaram a ser o partido mais votado, fazendo desta região a verdadeira exceção no novo mapa politico espanhol.

Neste caso, o parceiro catalão do PSOE no parlamento espanhol, a ERC, foi o partido mais castigado e passou de primeira a terceira força mais votada, atrás dos socialistas e dos também independentistas, mas de direita, Juntos pela Catalunha (JxCAT).

Durante os cinco anos em que foi primeiro-ministro, Pedro Sánchez indultou os protagonistas da tentativa de independência da Catalunha de 2017 que tinham sido condenados e estavam na cadeia. Mudou ainda o Código Penal para acabar com o crime de sedição, que tinha levado à prisão independentistas e de que estavam acusados outros.

Às críticas da direita de que negociou e fez concessões a separatistas que querem acabar com Espanha e com a unidade do país, Sánchez respondeu sempre que apostava pela convivência e pela desjudicialização da questão política catalã, sublinhando em como a situação hoje é diferente na região, onde não há atualmente em curso processos unilaterais de autodeterminação.

A exceção basca e catalã foi explicada esta semana pelo próprio líder do EH Bildu, Arnaldo Otegi, que numa entrevista afirmou que há uma "realidade teimosa" na Catalunha, no País Basco e em Navarra, onde "não se vota da mesma maneira", comparando com o resto de Espanha.

Há uma "sociologia eleitoral, cultural, nacional, política e institucional" diferente nestas regiões que evidencia que "existe um estado plurinacional em que bascos e catalães se manifestam de forma diferente", afirmou Otegi.

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