Juan Carlos de Borbón, envolto em suspeitas de corrupção e outras polémicas relacionadas com comportamentos considerados desrespeitosos das instituições espanholas, vive exilado nos Emirados Árabes Unidos desde 2020 e aterrou hoje na Galiza, para participar em regatas de barcos à vela.
A visita suscitou críticas de diversos setores, com as mais duras a serem verbalizadas nos corredores do parlamento por ministros da Unidas Podemos (que integra a coligação de governo liderada pelos socialistas), partidos de esquerda e independentistas da Catalunha e do País Basco.
Os partidos Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e EH-Bildu (basco) entregaram requerimentos para dois ministros irem ao plenário explicar quanto custa ao erário público esta deslocação de Juan Carlos I, que obriga a um dispositivo de segurança, e quanto deve o antigo monarca às finanças. O antigo monarca espanhol foi alvo de investigações judiciais por fraude e evasão fiscal.
O ministro do Consumo e dirigente da Esquerda Unida (uma das forças da Unidas Podemos), Alberto Garzón, afirmou que Juan Carlos I "não representa os espanhóis, nem os de esquerda, nem os de direita", sublinhando que "carrega muitos processos judiciais" que, apesar de arquivados ou prescritos, "mostraram que não é inocente".
Esta viagem à Galiza "provoca danos significativos na imagem de Espanha", acrescentou.
A ministra dos Direitos Sociais e líder do Podemos, Ione Belarra, defendeu que está na hora de os espanhóis elegerem o chefe de Estado para não assistirem com "certa vergonha" a situações como esta do regresso do antigo monarca ao país.
O líder do Mais País (esquerda), Iñigo Errejón, condenou Juan Carlos I por voltar a Espanha para "se rir dos espanhóis, dos que são republicanos e dos que são monárquicos".
"Gostava que quando viesse fosse para pôr as contas em ordem e pagar os impostos que deve. Mas se alguma vez a teve, perdeu a vergonha e perdeu todo o respeito por Espanha e pelos espanhóis", afirmou Iñigo Errejón.
Outros deputados de partidos de esquerda e regionais foram desfiando em frente dos microfones dos jornalistas condenações a Juan Carlos I, a que chamaram um "corrupto" que pode "passear-se alegremente" em Espanha "com a proteção do Governo", algo que "é absolutamente inaceitável em democracia".
Os ministros e deputados do Partido Socialista (PSOE) evitaram fazer comentários, enquanto a direita se limitou a dizer que Juan Carlos I é um cidadão espanhol que pode visitar o país, a título privado, como qualquer outro.
"Se o fizer da forma mais discreta possível, melhor para todos. Queremos que preserve o bom nome da Casa Real", reconheceu, porém, o deputado do partido Cidadãos (direita) Edmundo Bal.
O rei emérito, que abdicou em 2014, já esteve em maio do ano passado na Galiza, naquela que foi a sua primeira viagem a Espanha desde 2020 e que acabou por ser alvo de críticas de vários setores, pela forma como Juan Carlos I anunciou a estadia e se expôs publicamente, arrastando atrás de si 300 jornalistas acreditados e organizados por um clube náutico ou aceitando uma cerimónia de homenagem do mesmo clube.
Juan Carlos I acabou também a saudar grupos que se deslocaram à localidade onde esteve (Sanxenxo) e o receberam com gritos de "viva o rei".
Quando naqueles dias um jornalista lhe perguntou se iria dar explicações aos espanhóis, como reclamaram então muitas vozes, incluindo a do primeiro-ministro, Pedro Sánchez, o antigo monarca respondeu: "Explicações do quê?".
A justiça espanhola arquivou em março do ano passado os três casos que estavam relacionados com o rei emérito, por alguns dos alegados crimes já terem prescrito e por Juan Carlos I não poder ser processado pelas "irregularidades fiscais" de que foi culpado entre 2008 e 2012 devido à sua imunidade como chefe de Estado.
A visita do ano passado acabou com uma escala em Madrid antes do regresso a Abu Dhabi em que Juan Carlos I se encontrou em privado com o filho e Rei de Espanha, Felipe VI.
Desta vez, a Casa Real não fez qualquer comunicado sobre a visita de Juan Carlos I e fontes da equipa de Felipe VI revelaram à imprensa que o atual chefe de Estado soube pelos meios de comunicação social que o pai aterraria hoje na Galiza.
As mesmas fontes da Casa Real disseram que Felipe VI tinha pedido ao pai para regressar a Espanha só depois das eleições municipais e regionais de 28 de maio, para a coroa e o futuro da monarquia não se transformarem num assunto da campanha eleitoral.
Apesar de aparentemente estar a regressar a Espanha numa decisão unilateral, sem atender ao calendário que lhe deu a Casa Real, Juan Carlos I está a ser, para já, mais discreto nesta deslocação.
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