Um deputado canadiano do partido liberal, o mesmo do primeiro-ministro Justin Trudeau, demitiu-se esta quinta-feira da representação do partido, depois de ter alegadamente negociado com um diplomata chinês para que o regime de Pequim não libertasse dois prisioneiros canadianos.
Segundo explica o The Guardian, Han Dong fez o anúncio na Câmara dos Comuns, confirmando uma reunião com o cônsul-geral chinês em Toronto, mas negando ligações ao regime.
O jornal canadiano Global News avançou recentemente que o deputado reuniu-se com Han Tao, o tal diplomata, em fevereiro de 2021, e sugeriu que as autoridades chineses adiassem a libertação de Michael Kovrig e Michael Spavor, dois cidadãos canadianos, sob receios de que esta libertação pudesse beneficiar um partido na oposição.
Kovrig e Spavor estiveram detidos quase três anos na China, sob acusações dúbias de espionagem, com o governo de Justin Trudeau a acusar Pequim de retaliar contra a detenção de um executivo da Huawei.
Han Dong continua a negar qualquer envolvimento no processo, afirmando ao Global News que "o que foi reportado é falso". "Deixem-me garantir que, como deputado e como pessoa, nunca defendi e nunca defenderei ou apoiarei a violação de direitos básicos de qualquer canadiano, ou de qualquer pessoa em qualquer lado", vincou.
O deputado anunciou apenas a sua saída dos liberais, confirmando que vai manter-se no parlamento canadiano como deputado independente, de modo a afastar a hipótese de "conflitos de interesse"
"Quero garantir às famílias de Michael Kovrig e Michael Spavor que não fiz nada para lhes causar sofrimento", reafirmou.
O caso de Han Dong é o segundo de um legislador canadiano que opta por se tornar independente, após alegadas comunicações ilegais com oficiais chineses. A 10 de março, Vincent Ke, deputado regional na província de Ontário, também anunciou que sairia do partido conservador (que governa a região), após alegados contatos com autoridades chineses para interferirem nas eleições federais canadianas de 2019.
Esta também não é a primeira vez que Han Dong está envolvido em problemas de segurança nacional relacionadas com a China. Em fevereiro, a Global News revelou que Dong estava a ser analisado pelos serviços secretos pelas suas ligações ao regime, mas o primeiro-ministro afastou quaisquer dúvidas sobre o assunto.
Nos últimos anos, o governo do Canadá e as suas autoridades de segurança têm alertado para uma maior presença e interferência chinesa nos órgãos do estado e nos processos eleitorais do país, com a agência de serviços secretos a considerar a China uma "ameaça estratégica" à integridade das instituições democráticas canadianas.
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