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Turquia. "Há uma verdadeira possibilidade de Erdogan perder as eleições"

 O diretor do Centro de Estudos Económicos e de Política Externa de Istambul admitiu hoje que a candidatura única da oposição fortalece a possibilidade de o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, sair derrotado nas eleições de maio próximo.

Turquia. "Há uma verdadeira possibilidade de Erdogan perder as eleições"
Notícias ao Minuto

08:09 - 15/03/23 por Lusa

Mundo Turquia

Numa entrevista à agência Lusa, Sinan Ulgen adiantou que a maioria das sondagens feitas após o anúncio da candidatura consensual da oposição turca dão a vitória a Kemal Kiliçdaroglu, algumas delas com ou a dez pontos de vantagem, pelo que a possibilidade de Erdogan sair derrotado é "bem real".

"Sim, há uma verdadeira possibilidade de Erdogan perder as eleições. A oposição já se uniu em torno de um candidato que pertence ao maior partido da oposição [Kemal Kiliçdaroglu]. Segundo as primeiras sondagens, Kemal está à frente de Erdogan entre 8 a 10 pontos", sublinhou o analista e investigador turco.

Para Ulgen, o voto curdo, sobretudo do Partido Democrático dos Povos (HDP), é "vital" para a vitória de Kemal, pois valerá, atualmente entre 10 a 12 por cento dos votos, apesar de ter entrado no Parlamento com 7%.

"Sim, o voto curdo vai ser muito instrumental. Há um acordo que o HDP assinou com a oposição e é por isso que as possibilidades de o candidato da oposição sair vencedor são maiores. A decisão (dos partidos pró-curdos) de apoiar um candidato na corrida presidencial vai ter muita influência numa votação que aparenta ser muito apertada. Até agora, o partido pró-curdo já declarou informalmente apoio a Kemal. Está previsto, para breve, uma reunião entre as duas partes para que o apoio possa ser formalmente definido", sublinhou.

Segundo Ulgen, faltam oito semanas para as eleições de 14 de maio e, para já, há um maior consenso, segundo as sondagens, em torno da vitória de Kemal.

"Se Erdogan perder, vai contestar. Não há nenhuma dúvida de que ele quererá manter-se no poder mesmo depois de perder o voto dos eleitores. Há um cenário particular que pode ser problemático: se os resultados ficarem muito próximos, isso implicará recontagens e mais recontagens e disputas jurídico-legais. Só se os resultados foram expressivamente negativos é que Erdogan aceitará uma derrota", argumentou.

Outro fator para uma eventual derrota de Erdogan passa pela perceção do eleitorado face à incapacidade do atual governo atuar no pós-sismos de fevereiro, em que foram bastante criticados os atrasos na assistência e nas operações de busca e salvamento às zonas e às populações que foram mais afetadas.

"O sismo vai afetar as eleições. Primeiro, em relação à forma como decorreu, com muitos atrasos, a ajuda e a assistência às populações mais afetadas, que é onde, agora, o governo tem intensificado as ações de pré-campanha eleitoral. Estão numa fase frenética de reconstrução das habitações que ruíram. Se conseguirem bons resultados nessas 'operações', talvez o eleitorado mude a sua perceção sobre a atuação do Governo", afirmou Ulgen.

"Mas faltam apenas dois meses e, como tal, o Governo não tem muito tempo. Mais importante do que isso é o resto do país, onde a oposição terá de conseguir convencer o eleitorado de que tem um projeto melhor do que o do atual Governo para o país", acrescentou.

Para Ulgen, a oposição pode mesmo "ir mais longe", uma vez que está unida numa só frente contra Erdogan e "pode alcançar zonas tradicionalmente adversas e divididas entre a própria oposição" com um argumento simples.

"O modelo do atual governo foi testado e fracassou, pelo que há uma alternativa [a Erdogan]. Mas a oposição tem de vir com um plano credível para pôr em causa toda a realidade construída pelo regime de Erdogan", defendeu, admitindo que a mediação turca na crise ucraniana "tem gerado uma dinâmica interna positiva", mas que não será um fator decisivo para o resultado das eleições.

Questionado pela Lusa sobre se uma vitória da oposição permitirá uma "viragem significativa" das relações da Turquia com o Ocidente, Ulgen disse que sim, uma vez que a plataforma oposicionista já deu "garantias claras" de que pretende "realinhar" as posições de Ancara com a União Europeia (UE), com os Estados Unidos e com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO, que de é Estado membro).

"Isso será feito através dos esforços internos da própria frente da candidatura em relação à questão do Estado de Direito e à garantia das liberdades e direitos fundamentais. Estas duas questões vão criar as condições propícias para um melhor relacionamento com o Ocidente", sustentou.

"No entanto, o grau de avanço nesse sentido vai depender da forma como o Ocidente reagir à mudança política na Turquia. Penso, por isso, que haverá também responsabilidades do Ocidente em todo esse processo, nomeadamente da UE e dos Estados Unidos, para responder àquilo que deverão considerar mudanças positivas na política turca. Isso será vital", concluiu Ulgen.

Presidente da Turquia desde 28 de agosto de 2014, Erdogan foi primeiro-ministro turco entre 14 de março de 2003 e 2014 e foi também presidente da câmara de Istambul de 1994 a 1998.

Leia Também: Turquia. Voto de curdos será "decisivo" para derrota eleitoral de Erdogan

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