As câmaras de tortura russas descobertas em Kherson, na Ucrânia, não eram aleatórias, mas sim planeadas e financiadas diretamente pelo Estado russo, segundo mostram evidências recolhidas na cidade e analisadas por uma equipa de advogados internacionais, incluindo ucranianos.
Segundo o The Guardian, a equipa, liderada por um advogado do Reino Unido e denominada Mobile Justice Team, revelou, esta quinta-feira, que, após investigar 20 câmaras de tortura em Kherson, -cidade que esteve sob controlo russo durante oito meses - descobriu que estas faziam parte de um "plano calculado para aterrorizar, subjugar e eliminar a resistência ucraniana e destruir a identidade ucraniana".
"As câmaras de tortura em massa, financiadas pelo Estado russo, não são aleatórias, mas sim parte de um plano cuidadosamente pensado e financiado com um objetivo claro de eliminar a identidade nacional e cultural ucraniana", disse Wayne Jordash, que lidera a equipa, citado pelo jornal britânico.
As evidências, que foram recolhidas por procuradores ucranianos, incluem planos usados pelas forças russas para estabelecer, administrar e financiar estes espaços. Além disso, mais de mil sobreviventes apresentaram provas.
A investigação concluiu que estes centros de tortura eram administrados pelo Serviço de Segurança Federal Russo (FSB), pelo serviços prisional russo e colaboradores locais, "tendo sido projetados para subjugar, reeducar ou matar líderes cívicos ucranianos e dissidentes comuns", lê-se no The Guardian.
Entre os prisioneiros estavam pessoas com ligações ao Estado ucraniano ou sociedade civil da Ucrânia, tal como funcionários públicos, ativistas, jornalistas e professores, que era submetidos a espancamentos, torturas com choques elétricos e afogamento simulado. A equipa diz ainda que os prisioneiros eram também forçados a aprender e recitar slogans, poemas e canções pró-Rússia.
Mais de 400 pessoas desapareceram, não se sabendo se morreram durante a ocupação de Kherson ou se foram levadas para a Rússia.
"O plano de Putin é ocupar a Ucrânia, subjugar a população ucraniana ao domínio russo e destruir a identidade ucraniana. Esse plano está a tornar-se mais claro à medida que as evidências de crimes de guerra proliferam e as nossas investigações avançam", afirmou Jordash.
A equipa foi formada em maio para ajudar o Procurador-Geral da Ucrânia e é financiada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, pela União Europeia e pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.
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