Mais de metade dos cidadãos norte-americanos, 56%, desaprova a forma como o chefe de Estado republicano está a abordar o ensino superior dos Estados Unidos, de acordo com a sondagem de The Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research (AP-NORC), ao passo que cerca de quatro em cada 10 a aprovam, a par da aprovação geral do seu desempenho do cargo.
Desde que iniciou o segundo mandato presidencial (2025-2029), a 20 de janeiro, Trump tem tentado impor mudanças nas universidades que, segundo ele, se tornaram focos de liberalismo e antissemitismo.
Mais recentemente, as atenções centraram-se na Universidade de Harvard, à qual o Governo Trump congelou mais de 2,2 mil milhões de dólares (1,9 mil milhões de euros) em subsídios federais, ameaçou retirar o estatuto de isenção fiscal e exigiu profundas alterações políticas.
O Governo Trump também cortou o financiamento a outras instituições de ensino superior de elite, entre as quais a Universidade de Columbia, a Universidade da Pensilvânia e a Universidade de Cornell, por causa de como lidavam com o ativismo pró-palestiniano e permitiam a participação de atletas transgénero em desportos femininos.
Harvard considerou as exigências do Governo uma ameaça à autonomia que o Supremo Tribunal há muito concedeu às universidades norte-americanas.
A sondagem evidencia um desfasamento entre a posição do Governo Trump de atacar universidades e uma opinião pública norte-americana que as vê como fundamentais para a investigação científica, novas ideias e tecnologia inovadora.
Cerca de seis em cada 10 adultos norte-americanos afirmam que as universidades contribuem mais positivamente para a investigação médica e científica do que negativamente, e uma percentagem semelhante é a favor da manutenção do financiamento federal para a investigação científica.
A posição de Trump sobre o ensino superior tem mais aprovação entre os republicanos, a maioria dos quais vê os 'campus' universitários como lugares onde os conservadores são silenciados e as ideias liberais não são controladas.
Cerca de oito em cada 10 republicanos aprovam a forma como Trump está a lidar com as questões relacionadas com as universidades - o que é, por exemplo, mais elevado do que a percentagem de republicanos, 70%, que aprovam a forma como está a lidar com a economia - e cerca de seis em cada 10 dizem estar "extremamente" ou "muito" preocupados com "o preconceito liberal" nos 'campus'.
Os republicanos estão mais divididos, no entanto, quanto ao corte de financiamento federal às universidades se estas não se curvarem às exigências de Trump: cerca de metade é a favor, cerca de um quarto é contra e uma percentagem semelhante é neutra.
No caso de Harvard, Trump ameaçou retirar-lhe o estatuto de isenção fiscal e o seu Governo aplicou cortes no financiamento, medidas que dividem a opinião pública: quase metade opõe-se à retenção do financiamento federal como ação punitiva, ao passo que cerca de um quarto é a favor e cerca de um quarto é neutro.
Uma das principais preocupações da maioria dos norte-americanos é o custo de um diploma universitário: cerca de seis em cada 10 adultos estão "extremamente" ou "muito" preocupados com o custo das propinas, uma preocupação que é partilhada pela maioria dos democratas e dos republicanos e ultrapassa de longe as preocupações do público em geral com o antissemitismo e o "preconceito liberal" nos 'campus' universitários.
A sondagem revela uma clivagem entre os norte-americanos com formação universitária e os que não a têm, o que realça uma eventual clivagem cultural de que Trump já anteriormente se aproveitou.
A maioria dos norte-americanos com um diploma universitário, 62%, opõe-se ao corte de financiamento federal às universidades que não cumpram as condições impostas pelo Presidente, enquanto os que não têm um diploma universitário estão divididos, com cerca de três em cada 10 a favor, uma percentagem semelhante contra e cerca de quatro em cada 10 a dizer que não têm opinião.
Cerca de três em cada 10 adultos norte-americanos consideram que os estudantes e os professores podem dizer "muito" livremente o que pensam nos 'campus' das universidades; cerca de quatro em cada 10 dizem que estes podem fazê-lo "até determinado limite".
Os republicanos sentem que as suas opiniões são reprimidas: cerca de oito em cada 10 afirmam que os liberais podem dizer "muito" ou "alguma coisa" do que pensam nos recintos universitários, mas menos de metade considera o mesmo em relação aos conservadores.
A sondagem AP-NORC foi realizada entre 01 e 05 de maio e inquiriu 1.175 adultos utilizando uma amostra extraída do AmeriSpeak Panel do NORC, assente em probabilidades e concebido para ser representativo da população dos Estados Unidos. A margem de erro é de mais ou menos quatro pontos percentuais.
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