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Analistas dizem que Kyiv tem graves problemas de logística e efetivos

Analistas militares ouvidos pela Lusa consideraram que a Ucrânia não possui de momento ímpeto para responder ao Exército russo, numa fase do conflito em que a perspetiva negocial permanece afastada e se agravam os problemas logísticos.

Analistas dizem que Kyiv tem graves problemas de logística e efetivos
Notícias ao Minuto

14:36 - 19/02/23 por Lusa

Mundo Ucrânia/1 ano

O coronel Mendes Dias referiu à Lusa que "a Ucrânia não tem condições, de momento, para responder a este novo ímpeto russo", admitindo que possam existir "mais avanços russos e, de seguida, a possibilidade teórica de diminuir o nível de tensão e sentarem-se à mesa das negociações, isto no prazo de um, dois meses".

No entanto, admite que no atual momento, e quando se assinala um ano da ofensiva militar russa na Ucrânia, a situação permanece num impasse. "O campo da negociação está encerrado, não apenas do lado russo mas também do lado ucraniano, e as condições que se colocam de início são nesta altura tipificadas pela irredutibilidade", resumiu.

O envio de armamento ocidental para a Ucrânia tem sido considerado um fator decisivo para repor algum equilíbrio no terreno, quando os dois principais problemas do Exército de Kiev são falta de efetivos e de munições.

"Foi o próprio secretário-geral da NATO a dizer que a taxa de consumo de munições da Ucrânia excede agora a taxa de produção dos países da Aliança", apontou o major-general Carlos Branco, que apesar da alegada desproporção de forças, é cauteloso face à anunciada ofensiva russa na região do Donbass, no leste ucraniano.

"Houve aumento da intensidade e expansão das operações militares russas mas não sei se é a grande ofensiva. Atualmente, milhares de soldados russos estão a chegar à zona de Sverodonetsk (província de Lugansk, leste, e à civil. Hoje, ninguém sabe onde os russos vão atacar. Há quem diga que nem vão atacar e limitar-se às zonas do Donbass onde estão atualmente", declarou.

Neste contexto, o reforço do armamento ocidental, o tempo que levará a ser disponibilizado, a sua qualidade ou a forma de abordar as múltiplas cadeias logísticas permanecem questões decisivas.

"Os meios são enviados de acordo com as necessidades e os recursos humanos. Capacidade significa meio, treino, logística. Capacidade aérea é ter isto tudo, não apenas o meio. E também na artilharia, a artilharia russa consome hoje mais munições por dia que a produção europeia por dia", assinalou Mendes Dias.

"A superioridade da artilharia russa é esmagadora, chega a ser sete para um, e de acordo com fontes russas e até agora, já foram destruídas 4.091 armas de artilharia ucraniana e morteiros", precisou.

A mobilização de combatentes para o Exército ucraniano é contínua e a idade limite para o serviço militar subiu já para 60 anos.

"Os consulados da Ucrânia deram indicações para recrutar os seus cidadãos com idade para combater em diversos países... começaram inclusive a recorrer ao recrutamento das minorias, designadamente a húngara, e que aumentou a tensão entre Ucrânia e Hungria", indicou Carlos Branco.

A necessidade de montar diversas cadeias logísticas, de coordenar os meios que estão a ser disponibilizados para terra, mar e ar provenientes de diversos países, é outro obstáculo ainda não solucionado por Kiev devido à sua diversidade, incluindo as munições.

"A atrição joga-se nos dois lados, e do ponto de vista da coordenação e do espoletar de uma economia de guerra é muito mais fácil que seja um só Estado do que um conjunto de Estados", frisa Mendes Dias.

Para o coronel, com tese de doutoramento em 2008 sobre estratégias militares, as declarações do secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, sobre o envio de aviões, ou a produção aliada, são desadequadas.

"O envolvimento não é NATO, são os países que pertencem à NATO e outros, e parece-me existir falta de cuidado nas palavras, que leva as opiniões públicas a pensar de forma diferente ou de forma errada", argumentou.

"Pode haver uma coligação de geometria variável que apoie a Ucrânia até com mais meios. Escusa de ser a NATO. Muitas vezes os objetivos portugueses não são os objetivos da NATO, e vice-versa", argumentou.

Carlos Branco considera que a Ucrânia optou por uma estratégia errada, ainda não corrigida.

"Ao contrário de optar com base na manobra, escolheu estratégia com base na atrição. Significa ficarem entrincheirados, nomeadamente nas cidades. Vimos Mariupol, Sverodonetsk, Lysychansk, Soldear, Bakhmut, mas sem esquecer as linhas de trincheiras espalhadas naquela zona e que dificultam a progressão russa", sustentou.

"Ao explorarem o erro da atrição, a artilharia russa consome por dia dez vezes mais que a ucraniana, estas entre cinco mil e sete mil munições dia, os russos 60 mil por dia", contabilizou.

Perante um aparente desequilíbrio de forças, começa a ser sugerida a eventualidade de um envolvimento formal de países terceiros no conflito, em particular a vizinha Polónia, uma perspetiva que não deve ser excluída.

"Se um país membro ou não membro da NATO resolver fazer intervir a sua tropa é porque considera que a circunstância ucraniana materializa a concretização para esse país, e no caso da Polónia, de um objetivo vital", indicou Mendes Dias, reforçando que tal "significaria que, para a Polónia se justifica morrer por ele".

"A Polónia estaria em guerra com a Rússia, com as consequências que poderiam advir: ataques russos a terra polaca. E com esse eventual ataque armado a um país da NATO, esse país poderia invocar o artigo 5.º", que integra uma resposta militar.

"Em 2020, a Polónia já tinha encomendado em 2020 aos norte-americanos 32 caças F-35 por 4.600 milhões de dólares, e agora já encomendou 250 carros de combate Abrams por 4.900 milhões de dólares ... E à Coreia do Sul, num negócio que envolve mais de 12 mil milhões de dólares, cerca de 180 carros de combate Black Panther, 200 armas de artilharia, mais de 50 aeronaves FA-50 e umas centenas de multiformes múltiplos... Com a guerra, o centro de gravidade europeu está a deslocar-se para o leste da Europa, por isso prevê-se que em 2030 o Produto Interno Bruto polaco ultrapasse o do Reino Unido", revelou.

Nesta perspetiva, o major-general Carlos Branco denota um reforço do eixo Reino Unido-Polónia-Estados do Báltico que poderá colidir com a estratégia norte-americana para a região, em que "os Estados Unidos decidiram afastar-se dos ingleses porque tinham o controlo no aparelho militar ucraniano mas não tinham no aparelho político, onde os ingleses garantiam influência no gabinete do Presidente".

"A grande preocupação dos norte-americanos foi garantir que controlavam tudo", assegurou, também numa referência à vaga de demissões que atingiu recentemente o Governo ucraniano, incluindo altos responsáveis.

"Existe uma ligação muito próxima entre ingleses, bálticos e polacos... os EUA querem controlar a situação e estão com receio" de perderem influência, concluiu.

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