Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Iémen, Griffiths, que é também o subsecretário-geral para Assuntos Humanitários, frisou que embora 21,6 milhões seja um número impressionante, "não transmite verdadeiramente a realidade ou a extensão do sofrimento das pessoas".
"Não transmite as escolhas impossíveis que os pais fazem enquanto lutam para alimentar os filhos. Não nos conta a história daquelas famílias cujas esperanças de voltar a casa se desvanecem a cada ano que passa. E não reflete o medo e o risco que as pessoas enfrentam -- especialmente mulheres e meninas -- ao realizar atividades simples, como buscar água ou caminhar para a escola", refletiu Griffiths.
De acordo com o subsecretário-geral, as necessidades humanitárias permanecem "alarmantemente elevadas" para os iemenitas, uma vez que a economia do país continua a enfraquecer e os serviços básicos estão cada vez mais precários.
Enquanto isso, o acesso dos cidadãos a assistência humanitária está a ser impedido, denunciando que as agências de ajuda são forçadas a enfrentar ambientes operacionais e cenários de financiamento cada vez mais desafiantes.
No ano passado, parceiros humanitários da ONU relataram mais de 3.300 incidentes que impediram ou dificultaram esse acesso.
"Isso é o equivalente a quase 10 incidentes por dia. Coletivamente, esses incidentes afetaram a prestação de assistência a mais de cinco milhões de pessoas", frisou.
Os impedimentos burocráticos são os constrangimentos relatados com mais frequência, incluindo restrições a movimentos humanitários e atrasos na aprovação de vistos e autorizações de trabalho.
Em dezembro, a ONU assistiu a alguns progressos em áreas controladas pelos rebeldes huthis, com aprovações em acordos de projetos. Contudo, a Organização considera que esses avanços não são suficientes, já que os procedimentos permanecem extremamente complexos.
"Exorto a comunidade internacional a continuar ao lado do povo iemenita este ano, contribuindo generosamente ao apelo humanitário e ajudando a diminuir as lacunas de financiamento para programas que salvam vidas", pediu o chefe da agência humanitária da ONU perante o corpo diplomático presente na reunião.
Griffiths referiu ainda que em 2022, a ONU registou 150 incidentes de violência contra o seu pessoal, bens e instalações, a grande maioria em áreas controladas pelo Governo do Iémen.
Além disso, dois funcionários da ONU permanecem detidos na capital Sanaa há 14 meses, e outros cinco ainda estão desaparecidos após serem sequestrados em Abyan há quase um ano.
"Essas tendências que estou a descrever -- de crescente interferência, restrições e violência -- simplesmente não podem continuar. Os trabalhadores humanitários devem ser capazes de realizar o seu trabalho com segurança, independência, rapidez e sem impedimentos ou restrições arbitrárias", sublinhou.
O Iémen vive desde 2014 mergulhado num conflito entre rebeldes huthis, próximos do Irão, e forças do Governo, apoiadas por uma coligação militar liderada pela Arábia Saudita e que inclui os Emirados Arabes Unidos. Os huthis controlam a capital Sanaa e grandes extensões de território no norte e oeste do país.
De acordo com a ONU, a guerra no Iémen já causou centenas de milhares de mortos e milhões de deslocados, com dois terços da população a necessitar de ajuda humanitária.
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