Sanaa, 16 jan 2023 (Lusa) -- O número de vítimas civis dos bombardeamentos da coligação militar liderada pela Arábia Saudita no Iémen duplicou em 2022, apesar de as partes no conflito iniciado em 2014 terem decretado um cessar-fogo que vigorou nove meses.
No seu relatório anual hoje divulgado, a organização Yemen Data Project indicou que durante o primeiro semestre de 2022 "houve um grande aumento de bombardeamentos" sauditas, que resultou "no número anual de vítimas civis mais elevado no combate aéreo desde 2019".
Nesses seis meses, a coligação militar perpetrou cerca de nove ataques diários, o que representa um aumento de 80% em relação ao mesmo período de 2021.
Assim, os bombardeamentos sauditas causaram a morte de pelo menos 155 civis desde janeiro a março de 2022, um aumento de 121% em relação ao ano anterior e, segundo o mesmo documento, há pelo menos 12 crianças entre as vítimas mortais.
No total, cerca de 471 civis morreram ou ficaram feridos nos ataques aéreos, o que reverteu a tendência para a redução do número de vítimas observada desde o início da intervenção da Arábia Saudita no Iémen, em 2015.
A Yemen Data Project indicou que desde que foi alcançado o primeiro cessar-fogo entre o Governo internacionalmente reconhecido do Iémen -- apoiado pela Arábia Saudita -- e os rebeldes Huthis, "não se registaram mais ataques aéreos", nem sequer quando o prazo do cessar-fogo terminou, no passado mês de outubro.
Segundo a organização, quase 20.000 civis morreram ou ficaram feridos desde março de 2015, com a intervenção da Arábia Saudita na guerra, ao passo que a coligação militar realizou mais de 25.000 ataques aéreos.
O ano com maior mortalidade para a população iemenita foi 2015, quando morreram quase 4.000 civis e mais 4.500 ficaram feridos, em consequência de um total de 5.444 ataques aéreos da aliança militar liderada por Riad.
O Iémen tornou-se palco de uma guerra civil em finais de 2014 entre os rebeldes Huthis, apoiados por Teerão, e as forças do Presidente Abd Rabbo Mansur Hadi, que em março de 2015 seria apoiado por uma coligação militar internacional árabe, liderada pela Arábia Saudita.
A ONU considera que esta guerra, que causou mais de 100 mil mortos, sobretudo civis, provocou "a pior crise humanitária do mundo".
Em outubro de 2020, a edição anual do Índice Global da Fome (IGF) da organização já colocava o Iémen entre os países do mundo que apresentavam níveis de fome alarmantes, o segundo grau mais grave da sua escala de avaliação.
Em 2022, o relatório do IGF, divulgado em outubro, continuou a listar o Iémen como um dos cinco países do mundo onde a fome é mais alarmante, sublinhando que "os números de população subnutrida estão a aumentar, não se prevendo qualquer melhoria até 2030".
Na sua fórmula para captar "a natureza multidimensional da fome", o IGF baseia-se em cinco indicadores: a taxa de atraso no crescimento infantil (raquitismo); a taxa de emaciação infantil, que significa a percentagem de crianças com menos de cinco anos com baixo peso para a sua altura, reflexo de subnutrição aguda; a subalimentação; o atraso no crescimento infantil (que reflete subnutrição crónica); e a taxa de mortalidade infantil de crianças com menos de cinco anos.
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