Afeganistão. Alunos abandonam exames em solidariedade para com mulheres
Movimentos de solidariedade ocorrem um dia após a proibição do acesso de mulheres às universidades no país.
© WAKIL KOHSAR/AFP via Getty Images
Mundo Afeganistão
Um dia após a proibição do acesso de mulheres às universidades no Afeganistão, e depois de as forças armadas de segurança terem bloqueado a entrada a centenas de estudantes do sexo feminino em universidades em Cabul, os colegas do sexo masculino, em gesto de solidariedade, abandonaram um exame.
"Isto apenas mostra como são ignorantes e quão pouco sabem sobre o Islão e os direitos humanos", referiu um estudante, referindo-se aos Talibãs, citado pelo Derbund.
Em protesto contra a decisão, um professor em Kunduz, cidade do norte do Afeganistão, anunciou também que deixaria o cargo.
Outro professor anunciou a renuncia ao cargo em direto na televisão, avançou o mesmo jornal. "O único remédio para nossa dor é a educação", referiu.
Em Nangarhar, no leste, os estudantes de medicina também boicotaram palestras em solidariedade às colegas.
Os talibãs, que tomaram o poder no Afeganistão no ano passado, ordenaram, esta terça-feira, a proibição por tempo indefinido da educação universitária para mulheres afegãs, revelou o Ministério da Educação Superior do país, numa carta enviada a todas as universidades públicas e privadas.
"Todos vocês estão informados para implementar a mencionada ordem de suspender a educação das mulheres até novo aviso", disse a carta assinada pelo ministro do Ensino Superior, Neda Mohammad Nadeem, citada pela Agência France-Press (AFP).
O porta-voz do ministério, Ziaullah Hashimi, que publicou a carta no Twitter, confirmou a ordem numa mensagem enviada à AFP.
O ministro da Promoção da Virtude e Prevenção do Vício afegão, Mohamad Khalid Hanafi, também precisou hoje que a reabertura dos centros educativos, encerrados desde a chegada ao poder dos talibãs, "depende em grande medida da criação de um ambiente cultural e religioso decente".
A nova proibição restringe ainda mais o acesso das mulheres à educação, uma vez que já estavam excluídas do ensino secundário.
Há três meses, milhares de raparigas e mulheres fizeram os exames de admissão à universidade em todo o Afeganistão. No entanto, foram impostas restrições às disciplinas que podiam estudar, com a ciência veterinária, engenharia, economia e agricultura fora das opções e o jornalismo severamente restrito.
Após a tomada do poder pelos talibãs no ano passado, as universidades incluíram salas de aula e entradas separadas por sexo. As estudantes do sexo feminino só podiam ser ensinadas por mulheres professoras ou por homens idosos.
Em agosto do ano passado, os talibãs entraram em Cabul e tomaram o palácio presidencial, no final de uma ofensiva-relâmpago iniciada em maio, com a retirada das forças norte-americanas e dos seus aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), incluindo Portugal.
"O Emirado Islâmico [como os Talibãs se autodenominam] deu ordens aos seus mujahideen e mais uma vez reitera que ninguém pode entrar em casa de ninguém sem autorização. A vida, a propriedade e a honra não serão prejudicadas", escreveu na rede social 'Twitter' o porta-voz talibã, Suhail Saheen.
É o primeiro ano em que o Afeganistão está sob controlo talibã desde a invasão dos Estados Unidos, em 2001.
Veja o vídeo acima dos alunos a abandonar um exame da faculdade.
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