"No total, 150 pessoas, incluindo mulheres, crianças e idosos, foram mortas e 86 feridas na quarta-feira e hoje", informou Abbas Moussa, diretor do hospital Wad al-Mahi, onde a violência ocorreu, em declarações à agência AFP.
As autoridades sudanesas impuseram um recolher obrigatório noturno na região, que faz fronteira com a Etiópia, na passada segunda-feira, na sequência da morte de 13 pessoas em confrontos entre membros da tribo Hausa e clãs rivais, de acordo com as Nações Unidas.
Não obstante, os atos de violência recomeçaram, apesar do destacamento de grandes contingentes de forças de segurança para a zona, a cerca de 500 quilómetros de Cartum, de acordo com um dignitário da tribo Hausa à AFP na quarta-feira à noite.
"Foram usadas armas e casas foram queimadas", disse.
A mesma fonte confirmou hoje que a maioria das vítimas sofreu queimaduras.
Os confrontos tribais resultam com frequência em incêndios de habitações e pequenos comércios.
Nos últimos meses, entre julho e princípios de outubro, pelo menos 149 pessoas foram mortas em resultado de incidentes violentos, centenas de pessoas foram feridas e 65.000 abandonaram as suas casas no estado do Nilo Azul, de acordo com a ONU.
No início da violência, os Hausa mobilizaram-se por todo o Sudão e atacaram edifícios públicos em reação a uma alegada discriminação nas leis tribais ancestrais.
De acordo com esses costumes, os Hausa - que foram os últimos a chegar ao Nilo Azul -- estão proibidos de possuírem terras, o que eles disputam.
A questão do acesso à terra é muito sensível no Sudão, um dos países mais pobres do mundo, onde a agricultura e a pecuária são responsáveis por 43% dos postos de trabalho e 30% do produto interno bruto (PIB) do país.
O Sudão tem sido palco nas últimas décadas de guerras e insurreições locais continuadas, uma realidade que explica a distribuição de grande número de armas por vários grupos e forças locais e o elevado número de mortos e incidentes de tensão extrema sempre que ocorrem incidentes como este.
Desde o último golpe de Estado, liderado pelo Chefe de Estado-Maior das Forças Armadas sudanesas, general Abdel Fattah al-Burhan, em 25 de outubro de 2021, a violência entre as tribos no Sudão aumentou fortemente, devido a um vazio de segurança criado pelo golpe, de acordo com os especialistas.
Os sudaneses, que têm vindo a manifestar-se semanalmente há quase um ano contra o golpe de Estado, passaram a apelar à "unidade" e ao "fim do tribalismo" nas suas manifestações.
Na semana passada, cinco pessoas foram mortas em confrontos tribais no Kordofan Ocidental, outro estado sudanês do sul.
Depois do surto de violência este verão no estado do Nilo Azul, os líderes tribais e os militares comprometeram-se a resolver as disputas tribais, mas ainda não alcançaram qualquer resultado satisfatório.
Entre janeiro e agosto últimos, os conflitos tribais fizeram mais de 370 mortos e provocaram a deslocação de 177.000 pessoas, de acordo com as Nações Unidas.
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